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Volta-te para Deus!

*Por Ana Rute Cavaco

João 8: 1-11

O texto de hoje fala-nos de um episódio que aconteceu entre Jesus, os escribas e os fariseus, e uma mulher acusada de adultério. Os escribas eram teólogos judeus, especialistas em interpretar a lei do Velho Testamento. Os fariseus eram homens religiosos que faziam parte de um movimento conservador. Nem todos os fariseus eram escribas, da mesma forma que nem todos os escribas eram fariseus. Por esta altura do ministério de Jesus, ele já tinha feito milagres (alguns ao sábado – dia de descanso) e, inclusive, já se tinha proclamado filho de Deus. Jesus não parava de dar nas vistas, de aumentar a confusão na cabeça destes religiosos que não o reconheciam como autoridade e pretendiam acabar com a confusão que Jesus espalhava. Dá para perceber, no relato de hoje, o quanto eles estavam determinados em terminar com isto tudo e livrar-se, de uma vez por todas, de Jesus.

João conta que estes escribas e fariseus trouxeram a Jesus uma mulher apanhada em adultério e sugerem que esta seja apedrejada. A lei de Moisés condenava o adultério, que era definido como relações sexuais entre duas pessoas, sendo que uma delas seria casada. A pena para o adultério era a execução de ambas as pessoas (Deuteronómio 22:22). Mas não especificava que o apedrejamento seria a forma de o fazer para todas as situações, apenas uma delas – caso um homem ou mulher estivesse noivo, mas ainda não fosse casado, e se algum deles fosse infiel a outro parceiro. Não sabemos a condição desta mulher, sabemos apenas que estes homens vêm determinados a tratar deste pecado.

Pára tudo! Nada vos chama a atenção? Há um pormenor insólito que me salta à vista: esta mulher é apanhada no “acto” (que pontaria, digo eu…) mas o homem com quem ela estava não é arrastado para este julgamento público. O que se passa aqui? Este pormenor, junto com toda a informação que temos nos capítulos anteriores a este episódio, é suficiente para desconfiar das intenções destes homens. Parece-me que está a valer tudo para comprometer Jesus e esta é a situação perfeita.

Outra pausa para pensar no contexto histórico: nesta época, Israel estava debaixo do domínio romano. Isso significava que se alguém fosse condenado à morte por um crime em território romano, isso teria de ser feito por meio do sistema romano. O povo que seguia Jesus odiava a ocupação romana, então os escribas e fariseus pensaram numa forma de o apanhar. Se Jesus dissesse: “Apedrejem a mulher”, eles iriam correr para a autoridade romana e dizer: “Este homem defende que devemos exercer a pena de morte desautorizando o sistema romano”. Dessa forma, Jesus teria problemas com os romanos. Mas se Jesus dissesse: “Não a apedrejem”, eles iriam até ao Sinédrio e diriam: “Este Jesus é um herege porque nega a lei de Moisés.” Na verdade, não importaria como Jesus responderia a este problema, ele estaria em apuros em qualquer um dos cenários. E esta era a situação perfeita para executar o plano.

No meio de todo este corrupio (uma mulher a ser arrastada por estes homens, sabe-se lá em que trajes, para o meio de um grupo de pessoas), o que vemos Jesus fazer? Jesus escreve com o dedo na terra, permanecendo em silêncio.

Bem, que contraste. O alarido e a calma. A agitação e a tranquilidade. Perante a insistência dos homens que o bombardeiam em busca de uma reacção, ele endireita-se e diz: “Aquele que, de entre vós, está sem pecado, seja o primeiro que atire a pedra contra ela”. E curva-se novamente em silêncio.

Quem não tem pecado, que comece a apedrejar esta mulher. – é como se as palavras ecoassem num silêncio que se instala. Quem não tem pecado, que julgue. Quem não tem pecado, que exerça justiça. Quem não tem pecado.

O texto conta-nos que os homens se retiraram um a um, sem resposta.

Quando Jesus se ergue novamente e não vê ninguém além da mulher, pergunta-lhe: “Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? ” Ela disse: “Ninguém, Senhor” – estas são as únicas palavras ditas pela mulher acusada nesta passagem.

Em resposta, Jesus responde com graça como só ele tem, com uma misericórdia emocionante: “Nem eu, também, te condeno. Vai-te, e não peques mais.”

Coloco-me no lugar desta mulher, escrutinada em praça pública, humilhada pelo seu pecado, preparada para ser condenada, enviada de volta para a sua casa, sem condenação. Jesus não levanta o dedo nem reforça a sua culpa, Jesus esbanja como só ele pode esbanjar misericórdia e graça.

Hoje, Jesus ergue-se com calma e olha-nos com amor. O mesmo amor que só ele sabe ser e que foi concretizado, dias depois deste episódio, ao morrer por todos aqueles condenados e culpados como esta mulher, como tu e como eu, e diz-nos que estamos livres da condenação dos outros, da condenação do nosso pecado. Não há mais condenação para aqueles que ficam debaixo da graça do nosso Senhor. Hoje é o dia. Volta-te para Jesus, hoje como estás.

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PERGUNTAS PARA REFLEXÃO

Consegues imaginar-te debaixo desta graça? Longe de culpa e condenação e livre para seres filha de Deus?

Encontras-te do lado dos fariseus e dos escribas, prontos a exercer justiça própria ou desta mulher pecadora? Qual o teu lugar nesta história e na vida?

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Ana Rute Cavaco, Portugal

Obs.: Texto escrito em português de Portugal. Esta plataforma não obedece ao Novo Acordo Ortográfico e respeitas as regionalidades da Língua Portuguesa de acordo com a origem de suas autoras.

Escrito por -

Ana Rute é casada há 18 anos com o Tiago (pastor presidente da Igreja da Lapa, em Lisboa), mãe da Maria (16 anos), Marta (13 anos), Joaquim (12 anos) e do Caleb (10 anos). Tem 43 anos, nasceu e cresceu em Lisboa, Portugal. Mora nos arredores, em Oeiras, junto ao mar.

Discípulas de Jesus de diferentes denominações da fé protestante com o propósito comum de viver para a glória de Deus.
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