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Vida sexual redimida – O perdão e o restauro de Deus

Há muitas maneiras diferentes de Deus se mostrar grandioso e misericordioso na nossa vida. Essas experiências são normalmente dolorosas, mas libertadoras porque estão ligadas à nossa conversão. São aqueles momentos em que a venda, que nos fazia cegas e cheias de certezas, cai e vemos a única verdade: não há nada melhor do que uma vida com Jesus.

Eu cresci numa família crente e fui educada na fé, não me recordo de um momento específico em que a minha conversão aconteceu, mas houve vários ao longo da minha adolescência e juventude em que o meu coração foi tocado. Um desses momentos (talvez o principal) em que Deus se mostrou misericordioso e libertador na minha vida, está relacionado com um passado de relações sexuais fora dos padrões que Deus designou para esse tipo de intimidade: o casamento. Como já disse, os meus pais eram crentes e sempre nos educaram com valores cristãos, mas nunca houve muita abertura para conversar sobre sentimentos amorosos, sexo, sensualidade e castidade. Eu sabia que não devia fazê-lo, sim, mas na minha imaturidade espiritual e moral apenas saber que era errado não me satisfazia a curiosidade e a rebeldia. Não estou a tentar desculpar as minhas escolhas com a falhas na educação que me foi dada, até porque hoje sou mãe de filhos pequenos e não sei como um dia vou abordar estes assuntos com eles. Com a falta de respostas em casa e na igreja e com muitas perguntas e anseios no meu coração, a sexualidade foi entrando aos poucos.

 

Sempre houve o fascínio com os rapazes e devagarinho e com o passar dos anos as experiências sexuais foram aparecendo (tantas vezes o pecado acontece assim na nossa vida, não é? Entra de mansinho para não dar nas vistas). Nunca houve um afastamento da igreja, de influências crentes e até do próprio Deus (achava eu que tinha uma relação saudável com Deus). Lembro-me de viver de angústia em angústia. A minha vida amorosa estava presa num loop repetitivo onde as relações começavam sempre com poucos limites sexuais, e eu convencia-me que fazia parte – “toda a gente faz isto. Mesmo na igreja, quem diz que não faz está a esconder” – mentiras em que eu acreditava para acalmar a consciência. O tempo passava e eu ia convencendo-me que estava tudo bem, mas depois as coisas começavam a correr mal, claro. (nada na relação era santo, nada contribuía para a minha aproximação com Deus). Eu sentia uma culpa tremenda, fazia promessas a Deus que ia mudar e até acabava por levar o namorado a concordar não ter mais intimidade física. Foram alguns namoros assim e o pecado ia continuando a cavar um buraco entre mim e Deus. A certa altura o buraco ficou tão grande que eu própria já tinha deixado de acreditar que havia remissão possível. Eu nunca duvidei da existência de Deus, simplesmente achava que já tinha estragado tanto os planos de Deus para a minha vida que já não servia de nada pedir perdão e tentar mudar. A culpa e a vergonha tinham-me convencido do poder de Deus, mas não o suficiente para me mudar. A mentira já era tão grande. Eu servia na igreja e ninguém sabia (porque eu não o confessava) que eu andava tão longe de Deus. Hoje tenho a confiança de que Deus nunca me abandonou.

 

Apesar de tudo, eu nunca deixei de ter vontade de ir à igreja, mesmo nas vezes em que a vergonha da impureza quase me puxava para fora da igreja, eu ia. Só mesmo o Espírito de Deus para me fazer ir. Quando eu achava que já não havia volta a dar para mim, que agora ia ter que me contentar com a amargura e vergonha, com a mentira e a vida dupla, Deus puxou-me. Foi mesmo isso que eu senti. Nessa altura eu estava numa relação puramente física, não havia nada emocional ou na forma de pensar que nos fizesse estar juntos. Só uma atração a que eu tinha cedido. Estava num dos piores lugares a nível espiritual que já experienciei. E mesmo assim, Deus envia um homem de Deus a querer me conhecer. Como é que é possível? Claro que, estando eu tão embrenhada no pecado, nem vi que podia ser bom para mim. Escolhi ignorar porque nem conseguia imaginar como seria sair do buraco escuro onde estava e ir para a luz. Sim, porque aceitar uma amizade com um rapaz cristão iria implicar falar sobre o meu pecado, lutar contra ele e aceitar fazer as coisas como Deus queria e não como eu queria. Passado uns tempos houve uma clareza na minha mente, a única coisa que eu conseguia pensar era “esta pode ser a minha oportunidade”. Eu tinha que confiar em Deus.

 

Não era a minha oportunidade de trocar de namorado para um mais santo do que o outro. Era a minha oportunidade de largar a vida velha e colher uma nova. Confessar e mudar. Fazer a escolha difícil. Escolher Deus. Entretanto muita coisa aconteceu e esse rapaz veio a ser meu namorado. Houve muitas conversas difíceis. Houve muita misericórdia e perdão de Deus manifestado através desse rapaz. Houve um nascer de novo para mim. Este processo foi muito difícil para os dois. Eu tive que me expor de uma forma como nunca tinha feito antes e ele teve que confiar que o meu arrependimento era sincero. Tenho a certeza de que isto só foi possível porque Deus nos capacitou aos dois. Havia uma música, que cantavam na igreja que frequentava na altura, sobre Deus fazer coisas novas a partir do pó. Era isso que eu sentia, que Deus estava a conseguir transformar-me, mesmo sendo eu pó insignificante. Não havia nada em mim que conseguisse sozinha fazer aquela mudança, mas havia tudo no perdão de Jesus. Eu estava a viver uma fase muito difícil, mas ao mesmo tempo tão alegre. E nada se comparava com a angústia e vergonha dos anos passados.

 

A decisão foi difícil, mas depois de agir e saber que Deus estava comigo naquela remissão, tudo ficou mais claro. A sensação de estar cega com uma venda nos olhos, de que falei no início do texto, era assim que eu tinha vivido. Apesar de só perceber isso a 100% quando a venda foi tirada, foi esse o tipo de vida nova que Deus trouxe à minha vida. E aqui está também a parte difícil de mudar: se antes estava como que cega e agora via, eu via tudo! Os pecados do passado vistos com a clareza do arrependimento pareciam muito maiores do que antes. Como é que eu agora ia viver com esta nova noção dos meus erros e ao mesmo tempo com a verdade de Romanos 8:1: “Portanto, agora já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus”? Havia dias em que o peso da culpa e vergonha pareciam me esmagar. A Bíblia diz mesmo que não há mais condenação para os que estão junto de Cristo Jesus, isto porque ao nos tornarmos filhos de Deus recebemos tudo dele, a começar pelo perdão eterno? Como é que eu lidei com tudo isto? Muito lentamente. Aliás, ainda hoje ao escrever isto fico fascinada com o tamanho do perdão que nos é dado em Jesus. Houve um lado da vergonha que o tempo levou, foram coisas que se passaram há anos, o peso emocional acaba por desvanecer, mas também houve um lado que teve de ser trabalhado.

 

Foi necessário redescobrir o prazer sexual no casamento, livre da culpa do passado. Foi e é um trabalho em casal, falar e criar intimidade que nos aproxima mais de Deus. Aproxima porque nos faz lembrar em como o plano de Deus é bom e a sua santidade deve ser imitada por nós, tudo isso resulta em mais amor por Deus. A culpa pode ser castradora e limitar-nos a falar só de certos assuntos, porque achamos que nos falta legitimidade para falar. Mas o perdão de Deus funciona exactamente da forma oposta: o perdão vem de Deus, por isso a legitimidade vem dele também. Se pecámos e fomos perdoados devemos falar ainda mais sobre isso e não menos. Deus deu-me a oportunidade de viver um noivado santo, onde esperámos pelo dia do casamento para estar juntos, desta vez tudo feito da maneira certa. A maneira como Deus imaginou as coisas quando criou Adão e Eva. Às vezes ainda há momentos em que o pecado do passado assombra os prazeres do futuro. É algo que aprendemos logo em Génesis 3, a queda é isso mesmo: viver com as consequências de estarmos longe de Deus.

 

Mas, queridas, Deus faz coisas novas do pó. Ele pode tudo. E isso é a certeza que segura o meu perdão e o meu casamento hoje.

 

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Discípulas de Jesus de diferentes denominações da fé protestante com o propósito comum de viver para a glória de Deus.
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