Resgatando o ensino sobre a Reforma Protestante
Desde o final da Idade Média, o processo de centralização monárquica tornou o relacionamento entre reis e Igreja bastante tenso, pois além do domínio espiritual sobre o povo, o clero também era detentor do poder político e da administração comportamental dos súditos. O papa recebia tributos de grandes extensões de terras – os feudos, mas o processo de formação e fortalecimento das monarquias nacionais fez tais práticas serem duramente questionadas. Sim. Isso é um fato, mas não podemos reduzir a Reforma Protestante apenas aos acontecimentos que alguns historiadores determinam como sendo os mais importantes.
O que devemos destacar é que a cristandade estava dividida, todavia a maioria dos livros de história ignora o que realmente moveu os reformadores, atribuindo ao movimento uma roupagem marxista. Grande parte dos historiadores e autores de livros didáticos apresentam a Reforma Protestante como uma artimanha político-econômica da burguesia que queria se livrar definitivamente dos tentáculos dos nobres feudais. Infelizmente, em geral os alunos conhecem a Lutero como alguém que valorizava somente aspectos morais, e que tinha uma rixa pessoal contra alguns líderes da Igreja, enquanto Calvino é apresentado como um sagaz membro da burguesia, que usava a doutrina da predestinação para uma valorização social e econômica.
Porém, para compreendermos a Reforma Protestante, temos que esquecer essa terrível falha historiográfica e olharmos a questão teologicamente. Lutero se levantou contra uma organização estrutural e doutrinária completamente equivocada sobre a salvação. Ele não tinha objetivos sociológicos, nem tampouco defendia que a salvação se obteria por meio de uma reforma social, e cria que somente por meio da regeneração divina mudanças reais poderiam ocorrer. Isso explica o porquê do grande reavivamento espiritual operado por Deus em sua conversão.
Martinho Lutero não inventou nada que já não existisse, ele somente resgatou a importância da Bíblia na caminhada cristã. Suas 95 teses, afixadas na entrada da catedral de Wittenberg, demonstraram o seu comprometimento com Cristo e seu desprendimento das coisas mundanas. Por isso, acharmos que a Reforma trouxe novidades para a vida cristã genuína é um grande equívoco. Na verdade, o que houve foi o resgate da Palavra de Deus. Isso, inclusive, é o que nos permite identificar com mais clareza algumas seitas que surgiram e ainda surgem no meio evangélico.
Os reformadores não defenderam nenhuma verdade oculta, pelo contrário, o que pretendiam era destacar a natureza imaculada das Escrituras. Este era o cerne de toda discussão teológica que permeava o movimento; voltar à pureza bíblica no que diz respeito à inspiração divina, acima de qualquer papa ou concílio.
A produção de relíquias fraudulentas, o despreparo doutrinário, as relações de concubinato, os filhos ilegítimos dos membros do clero, a venda de indulgências, e as inúmeras outras práticas comuns aos homens do clero demonstravam não apenas problemas comportamentais, éticos e morais, mas eram prova da distância entre a Igreja e a Bíblia. A proposta dos reformadores era de que somente a Bíblia deveria nortear as ações da cristandade e não cargos ou tradições.
A Reforma Protestante resgata o entendimento de que Jesus Cristo é autor e consumador de nossa fé e, portanto, único responsável por nossa absolvição, e tira a salvação das mãos dos homens, sejam eles reis ou plebeus. Tal ensinamento gera um enorme impacto no mundo europeu do século XVI, pois a Bíblia derrubará a crença na infalibilidade do papa e estimulará que a oração seja dirigida direta e somente a Deus.
Sabemos que a Reforma foi um movimento operado por pecadores, mas divinamente utilizado pelo Espírito Santo de Deus para resgatar suas verdades e preservar a sua igreja, por isso não podemos deixá-la esquecida e nem deixar de declarar a sua mensagem, que reflete os ensinamentos bíblicos aos dias de hoje. O Deus que se manifestou na Reforma fala ao mundo ainda hoje, e com a mesma mensagem eterna. Em oração e temor, é necessário que tenhamos coragem de proclamá-la.
Ana Júlia Castro
Necessário esse texto. Como uma estudante do Ensino Médio, aprendi muito (tantos na escola pública quanto privada) sobre a Reforma Protestante de uma maneira muito distorcida, principalmente nas aulas da Sociologia e de História. A verdade do movimento sempre era escondida pelos ideais marxistas, tanto nos livros didáticos quanto nas explicações dos professores. Todos os alunos eram doutrinados nesse sentido e nunca entendiam o poder da Palavra de Deus, que foi demonstrado tão claramente no período da Reforma. Todo estudante do Ensino Fundamental e do Colégio deveria ler isso.