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Precisas nascer outra vez

*Por Débora Duarte

João 3:1-21

Tendo já passado por cinco gestações e quatro partos, o tópico do nascimento, para além de não me ser estranho, é-me muito querido. Existe uma estranha harmonia de sentimentos contraditórios, onde a alegria e a lágrima têm lugar na mesma sala, a dor e o alívio ecoam juntos pelo corredor do hospital enquanto o desespero e a esperança se entrelaçam. Cada nascimento é um sublime milagre de Deus, e um convite à celebração.

Parte do seu encanto vem do carácter irrepetível do momento. Não dá para nascer outra vez, nem dar à luz duas vezes a mesma criança. Cada homem ou mulher esgota a sua única oportunidade naquele mesmo instante.

Ainda que pareça uma dedução simples e óbvia, esse era o ponto que fazia confusão a um homem letrado, respeitado e inteligente chamado Nicodemos durante sua conversa com Jesus. Afinal, será que Jesus não percebia que lhe estava a pedir uma coisa impossível? Voltaria ele outra vez à barriga da sua mãe? Nem em criança, quanto mais agora, sendo velho!

Mas Jesus queria que ele fosse mais fundo. Que percebesse que é realmente preciso nascer de novo para ver, entrar e participar do Reino! (v.3) Não era um nascimento físico, obviamente, era algo espiritual. Se para pertencer a uma família terrena precisamos nascer de um ventre materno, para ser parte do Reino de Deus precisamos de um nascer espiritual.

Este nascer que Jesus fala é uma mudança extremamente profunda no coração, na vontade e no carácter. Uma mudança humanamente impossível que envolve a morte de desejos, de pensamentos, de interesses, de medos, de comportamentos, para toda uma nova natureza. Vai muito mais além do que o cumprimento de regras, o praticar de boas obras.

Uma das coisas que impressiona neste diálogo é que Jesus não está a falar para um inveterado prevaricador da lei, alguém sem moral, sem costumes, sem consciência social. Nicodemos era um cumpridor da lei, dos rituais, da religião. Mas Jesus confirma o que vinha sendo dito atrás – ele conhece os corações (2.23-25). Ele conhece o profundo, não apenas o superficial. Ele sabe, neste preciso momento, o estado do meu e do teu coração, e que à parte dEle, não temos esperança, por muito bons que pensemos que somos.

Somos pecadores, nascidos num mundo caído. A nossa natureza tende para o que é mau. Lutamos contra a inveja, contra a mentira, contra a cobiça, contra a luxúria, contra o amor ao dinheiro. Até as coisas boas, as nossas boas obras, a nossa justiça própria, são contra nós quando nos fazem orgulhar do que alcançamos e nos julgamos merecedores do favor e salvação de Deus. Nada há, em nós, que mereça o amor e o favor do Deus santo, justo e perfeito.

Ainda assim, Deus deu-nos aquilo que de melhor tinha – Jesus, o seu único filho (3.16). E demonstrou um amor imensurável, sem limites, que engloba não só aos contemporâneos de Nicodemos, mas também a cada um de nós, ao enviá-lo a este mundo. O Verbo encarnado veio a um mundo de pecadores e ofereceu perdão a mim e a ti – basta arrependeres dos teus pecados, desistires de alcançar por ti próprio a salvação e crer, ter fé – palavra tão pequenina, mas tão fundamental.

O resultado daquele que o rejeita é inevitável e apenas um: a condenação. Quem o despreza e escolhe as trevas condena-se a si próprio.

▪️ Quer sejas um cumpridor da lei, ou alguém que pouco se importa com isso, o que representa para ti a verdade de Jesus conhecer intimamente o teu coração, como mais ninguém conhece? Como respondes ao apelo de Jesus?

▪️ Que segurança te traz aceitar a oferta de Jesus – arrepender e crer? Como isso afecta a forma de enfrentar as dificuldades da vida? Como isso te influencia numa verdadeira busca por rectidão e justiça?

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Débora Duarte, 28 anos e casada há 7 anos com o Jónatas – pastor da igreja do Silveiro (distrito de Aveiro – a Veneza de Portugal). Mãe do João – 5 anos, do Tiago – 4 anos, da Maria – 2 anos e da Inês – 1 ano.

Discípulas de Jesus de diferentes denominações da fé protestante com o propósito comum de viver para a glória de Deus.
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