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Fui abandonada pelo meu marido. Mas não por Deus!

Em algum momento da tua caminhada desejaste recomeçar do zero?

 

Escrever um ponto final e acrescentar-lhe um parágrafo? Ou simplesmente apagar toda a narrativa que ficou para trás? E se isso não fosse uma escolha tua? Se um dia acordasses e percebesses que a coisa mais importante da tua vida havia desaparecido como um vapor? Se abrisses os olhos e não tivesse sobrado nada além das tuas roupas rasgadas e do teu peito aberto? Houve um dia na minha vida em que eu acordei para o meu maior pesadelo, sem que isso fosse uma escolha minha. Houve um dia na minha vida em que abri os olhos para uma manhã escura e gélida de inverno. O sol foi-se.

 

Este dia que te descrevo foi o dia em que eu perdi o meu marido, não para a morte, mas para a quebra de uma promessa feita diante de Deus. Há 6 anos atrás, vi-o ir embora e deixar-me só. Conscientemente, a sua perda era provavelmente um dos meus maiores medos, muito antes até de me imaginar a percorrer a estrada do divórcio. O que eu não sabia é que esse medo viria a aterrorizar os meus dias da forma mais real e dolorosa. E eis que, sem desejar ou prever, fui obrigada a recomeçar mesmo sem forças para o fazer. Senti a aspereza e o sabor amargo da dor. Senti a dor da alma que esmaga o corpo. Senti um vendaval dentro de mim. No entanto, eu sabia que no meio desta tempestade, a Rocha era o lugar onde eu me podia abrigar. “Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente que edificou a casa sobre a rocha; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, que não caiu, porque fora edificada sobre a rocha.” (Mateus 7.24,25) “Eis a Rocha! Suas obras são perfeitas, porque todos os seus caminhos são juízo; Deus é fidelidade, e não há nele injustiça; é justo e reto.” (Deuteronómio 32.4) Os dias, semanas, meses e anos que se seguiram foram de luta e reconstrução. Fui levada a questionar-me sobre a ordem, importância e hierarquia das pessoas e metas na minha vida. Deus tinha um papel estrutural e incontornável em mim, mas esta perda expôs o meu pecado: Deus não ocupava o primeiro lugar…, mas o segundo. Com o tempo, percebi que este erro é mais comum do que nos parece à primeira vista, mas eu não podia encarar isto como uma justificação, mas antes como uma oportunidade de mudança. Ainda que seja mais fácil amar mais alguém que está fisicamente ao nosso lado todos os dias do que a Deus a quem não vejo (mesmo sabendo que não há um centímetro neste mundo que Ele não ocupe!).

 

A realidade é que, sem nos darmos conta, no silêncio dos nossos corações, vamos alimentando a dependência de pessoas, trabalho, bens e tantos outros ídolos que competem com o lugar do soberano Criador nas nossas vidas! Até ao dia em que Deus abre os nossos olhos… Não tendo escolhido este ponto de viragem, Deus deu-me a oportunidade de escolher a forma como caminharia daí em diante. Para começar e sem saber o que Deus tinha para mim na próxima encruzilhada, eu caminhei (literalmente) horas, todas as madrugadas antes do sol nascer. Hoje, guardo momentos preciosos e únicos na presença de Deus. Momentos em que abri o meu coração ao Senhor e Dele recebi a mais doce paz, a mais firme segurança e as mais reais promessas colhidas na Sua palavra.

 

“O Senhor é que vai adiante de ti; ele será contigo, não te deixará, nem te desamparará; não temas, nem te atemorizes.” (Deuteronómio 31.8) “Não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou o teu Deus; eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a minha destra fiel. (…) Porque eu, o Senhor, teu Deus, te tomo pela tua mão direita e te digo: Não temas, que eu te ajudo.” (Isaías 41.10,13) Por vezes, Deus permite que fiquemos sem nada para que vejamos, com os nossos próprios olhos marejados em lágrimas, que Ele é tudo! Também aprendi que aqueles que mais nos ferem, sem quererem ou saberem, tornam-se ferramentas de Deus no sentido em que têm parte num plano muito maior. “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.” (Romanos 8.28) É por esta razão que erramos quando colocamos as nossas expectativas no lugar errado. Deus é o autor da nossa história e, ainda que diariamente nos debatamos com a dificuldade em confiar SOMENTE nos Seus planos perfeitos e amorosos para a nossa vida, a palavra Dele deve ser a lâmpada que ilumina a estrada mais escura. Nesta caminhada espiritual sem retorno, Deus utilizou o divórcio para calibrar a minha visão, reordenar o meu coração e ajustar a minha rota. Pelas palavras de Rick Warren, Deus está mais empenhado em moldar o nosso carácter do que em ajudar-nos a alcançar metas e sucessos.

 

É libertador saber que Deus se preocupa muito mais em investir naquilo que é invisível aos olhos: o nosso carácter, já que em causa está o Seu propósito de nos assemelharmos a Jesus. Por outras palavras, o autor da minha vida olhou para as minhas imperfeições e decidiu reescrever-me através de um processo de dependência Dele. A dor que senti foi um meio e não um fim, onde em muitos momentos tive a oportunidade de experimentar um oásis no meio do deserto, a serenidade no meio da tempestade. O meu passado faz parte de quem eu hoje sou. É um capítulo da história que Deus ainda está a escrever. A obra ainda não terminou, o que significa que não faz sentido apagar partes desta narrativa pois ela perderia a sua coerência e beleza. Sendo a minha história (e talvez a tua) uma obra-prima em construção, é possível acrescentar mais uma letra no final da palavra “PERDA”. Essa letra é em forma de círculo e lembra-me a eternidade pois é a palavra-chave de uma história sem fim, contada por Aquele que me perdoou primeiro. O PERDÃO será uma mera escolha se não nos detivermos na sua profundidade, dimensão e origem. Perdoar aqueles que nos ferem pode ser muito mais do que uma escolha: é a continuidade da obra que Jesus já começou. Não começa em mim nem em ti, magoados por escolhas alheias, mas continua através de nós, filhos de Deus. Por essa razão, a figura da cruz resume a dimensão do perdão: só pode ser horizontal (de uns para os outros) porque antes foi vertical (Deus para connosco). Assim, o Senhor deu-me uma nova folha para escrever. É a mão Dele que me conduz. Percebi que não sou uma folha amassada e cheia de vincos, mas uma folha em branco. Sou um virar de página, pronta a receber o tracejado doce da caligrafia de Deus.

 

E o fim da minha história? Em Jesus não há fim, apenas uma espera. “If you are waiting on God, do what waiters do. Serve.” (Ann Voskamp) Pai, humildemente agradeço-te porque abriste esta ferida no meu coração para que eu te pudesse ver e sentir como eu nunca imaginei. Obrigada porque Tu és Aquele que tem as palavras da vida e, em Ti, a nossa história não acaba.

4 Comentários

  • Daniel Herlânder Felizardo

    Grato pela tua partilha abençoada. Abrir assim o coração, de forma tão natural e profunda pode estimular outros que estejam a passar, ou já tenham passado, por experiências familiares tão traumatizantes. Deus é bom. Nele sentimos paz e segurança. Bjs

  • Márcia Almeida

    Simplesmente encantada com tua narrativa, com a maneira como ressignificas-te tua dor, e com o que Deus continua a fazer em tua vida e através dela.

  • Que bálsamo pro coração ler esse texto! Passei por um divórcio há 1 ano e 2 meses. E é exatamente isso. O processo de cura ainda está em curso, e a dor do envelhecer na espera pela família que pedi a Ele é constante. Mas dia após dia tenho aprendido a construir minha vida nEle.

  • Karine Andrade Oliveira

    Essa é minha história e a caminhada em entender esse lugar que me perdi mas me encontrei Nele tem sido diária. Sei que Ele me ama e que Ele precisa ser o primeiro em meu coração. E sigo crendo que Ele está reescrevendo minha história! 😭😭😭😭😭

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