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Falar sobre sexualidade é falar sobre imagem corporal

*Por Ana Rute Cavaco

Falar de sexualidade é falar de imagem corporal. Não temos forma de contornar este assunto, nem queremos. Em doze anos de serviço no ministério e aconselhamento a mulheres, tenho-me cruzado com cenários muito diferentes, mas se tivesse de sintetizar uma forma de resumir, arriscaria dizer que a forma como uma mulher se vê ao espelho define muito a maneira como vive a sua vida sexual.

No caso da vida sexual (e estou a falar para mulheres casadas), há um conjunto de circunstâncias que colaboram para uma harmonia geral, e falaremos de todas elas ao longo dos nossos artigos. Mas a primeira, que na minha opinião é a que mais bloqueia ou liberta uma mulher, é a forma como se sente no seu corpo. Já estive na presença de mulheres com uma beleza incontestável, com as medidas certas, na sua juventude, mas com vidas sexuais quase inexistentes, o que levanta a questão: porquê?

O porquê é complexo, tal como a mente da mulher o é. Mas arrisco dizer que precisamos ter uma visão mais bíblica da nossa imagem e menos escrava da publicidade.

1. Precisamos lembrar que somos IMAGO DEI. Somos feitas à imagem e semelhança de Deus. Somos as únicas criaturas feitas por Deus que existem nessa condição. Não há nada na nossa aparência que tenha escapado ao Criador. O teu nariz, as tuas mãos, tudo foi criteriosamente desenhado por Deus (Génesis 1).

2. Precisamos parar de nos comparar. A comparação despoleta sentimentos de inveja, cobiça e cria ressentimentos desagradáveis para com Deus. Gera ingratidão e distrai-nos de usufruir de tudo o que Deus nos dá. Um dos mandamentos instrui-nos contra isso mesmo: “Não cobiçarás.” (Êxodo 20). Precisamos respeitar as nossas limitações, não baseando os parâmetros de felicidade na beleza de outras mulheres. Ou antes, no que consideramos ser belo. Sabia que os conceitos de beleza variam consoante os lugares do mundo, épocas, circunstâncias?

3. Precisamos lembrar que cuidarmos do nosso corpo e da nossa saúde não significa que controlamos a nossa aparência ou a saúde. Uma das ideias mais presentes hoje é aquela que vende exercício físico e alimentação como o garante de bem estar. Não vou contrariar que estas práticas podem contribuir para que tenhamos saúde, mas cuidarmos dos nossos corpos deve ser algo que fazemos porque somos pessoas que desejam o equilíbrio físico e espiritual, não apenas porque desejamos resultados. Da mesma forma que me alimento espiritualmente, cuido de mim fisicamente, tendo em conta que cuidado não significa que vou ter sempre saúde ou que a imagem no espelho é compatível com os parâmetros do instagram. Cuido do meu corpo porque o respeito, não porque espero ter resultados dele por si só.

4. Precisamos viver com maior liberdade as bênçãos que Deus nos dá. Crescemos com imagens do cinema, que distorcem e limitam a vida sexual. Vemos na tela corpos perfeitos, jovens, e aparentemente compatíveis.

Foi Deus quem inventou o sexo e inventou-o para o casamento, que se faz de um homem e de uma mulher que se comprometem a ficar uma vida juntos. Isso significa que um casal irá viver sexualidade em diferentes momentos, idades, corpos, e que Deus estará presente a abençoar cada uma dessas fases. A relação sexual, como tudo na vida, é algo que se aprende. Começa, sobretudo, na forma como a vemos e encaramos, investindo nela e confiando que não se esgota, pelo contrário: investimento e conhecimento geram maturidade e intimidade. É um trabalho para toda uma vida, cujos resultados se veem com o tempo, nem sempre no imediato.

Bem sei que uma vida sexual se faz com duas pessoas e com muitas nuances pelo meio. Mas hoje falamos entre mulheres, para mulheres casadas. Que visões distorcidas de ti mesma e da sexualidade te impedem hoje de viver o casamento de uma forma plena? Pede a Deus que te ajude hoje a ver a sexualidade como ele a criou, não como o mundo a inventa.

Nota: Não estamos a ignorar que existem problemas e disfunções. Queremos poder tratá-los com o respeito que merecem, em artigos posteriores.

Obs.: Texto escrito em português de Portugal. Esta plataforma não obedece ao Novo Acordo Ortográfico e respeitas as regionalidades da Língua Portuguesa de acordo com a origem de suas autoras.

 

 

Discípulas de Jesus de diferentes denominações da fé protestante com o propósito comum de viver para a glória de Deus.
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