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Caminhando no vale da infertilidade

Quando soube que não poderíamos ter filhos biológicos, eu era ainda uma recém-convertida. E ter filhos de imediato, não era algo que fazia parte dos nossos planos como casal. Quisemos primeiro viver a vida ao nosso modo. Viajar muito era o nosso sonho e os filhos seriam um empecilho ao nosso coração egoísta e autossuficiente.

Mas (e há sempre um “mas” que faz muita diferença), Deus tinha planos para nós e em especial, para mim. Quando nós dois entendemos que já era tempo de termos filhos, e isto ao fim de 12 anos de casados, fizemos todos os testes e exames excepto os da fertilidade.  Deixei de tomar a pílula e, nas palavras do meu marido, “agora seria tiro e queda”.

Tentámos durante ano e meio e nada de engravidar. Então resolvemos consultar o médico para saber que exames fazer, para determinar se haveria alguma razão que impedisse a gravidez. Os exames detectaram que o meu marido não poderia gerar filhos, pois os espermatozoides dele não completavam a espermiogénese, ou seja, não desenvolvem as duas últimas etapas fundamentais para a reprodução.

Lembro-me de ter ficado num estado de surpresa. Senti receio de dar a notícia ao meu marido, pois fui eu a primeira a ver os resultados, mas ao contrário do que eu esperava, ele reagiu bem. Aparentemente, claro. Num tom de brincadeira, ele dizia que se sentia “como um automóvel que funcionava bem, excepto o limpa pára-brisas, que não trabalhava”. Coisas de quem trabalha com a mecânica.

A partir daí, deu-se início ao processo daquilo que eu chamo do começar a morrer para mim mesma. Na minha recente fé, eu cria de coração que Deus tinha todo o poder de reverter a situação e tornar o meu marido fértil. Eu via nisso uma oportunidade de Deus operar um milagre e atrair o meu marido a Jesus, pois ele não era crente.

Mas antes de trabalhar no meu marido, Deus precisava transformar o meu próprio coração. Logo, a primeira decisão que tomei após os resultados médicos, foi: “tudo bem, não podemos ter filhos, então vamos adoptar”. O meu marido concordou, mas foi de opinião que deveríamos tentar tratamentos de fertilidade.

Confesso que não era muito da minha vontade. Orei a Deus e disse-Lhe que não desejava muito seguir por esse caminho. Mas o meu marido queria. Ele achava que deveríamos tentar, e eu não quis deixar de dar lugar a essa vontade do meu marido. E coloquei isso em oração. Deixei nas mãos de Deus. Se Ele entendesse que eu engravidasse assim, então assim seria.

Fizemos três tentativas.  Três meses. Nada.

Mais três tentativas. Mais três meses. Nada. Em cada uma delas, tempo de espera. E muita, muita ansiedade, expectativa e desgaste. Em cada uma dessas intervenções, eu orava a Deus e entregava-Lhe a direção de tudo. Recordo até dos louvores que cantava interiormente. Foram muitos os sentimentos e emoções que experimentei em todo o processo, mas uma coisa foi sempre certa para mim: que Deus estava ali do meu lado, que nunca me abandonaria e que eu não era menos amada por estar a passar por tudo isso. Antes pelo contrário!

Por um lado, eu queria manter-me firme na minha fé e dependência de Deus, junto do meu marido descrente. Queria muito que Deus mostrasse o Seu poder e intervir e reverter a situação. Por outro, criava esperança de que os tratamentos dessem resultado, e eu pudesse ter a alegria de gerar um bebé dentro de mim. Tudo isto originava muito desgaste e expectativas.

Ao fim das seis tentativas, decidimos parar com este processo. Paralelamente, corria o processo de adopção.

E eu lutava com Deus. Batalhei com Ele porque eu queria as coisas ao meu modo. Eu até dizia a Deus como é que Ele deveria fazer! E Ele sabe que eu tinha a fé de que Ele poderia fazer o impossível. Mas a minha fé estava distorcida e eu precisava mudar o meu foco. Foram 4 anos de luta, de oração. Lia todas as passagens da Bíblia, onde várias mulheres de Deus passaram por isso. A diferença é que ao fim de um tempo, Deus concedeu-lhes o filho desejado. Só que esse era o plano de Deus para essas mulheres.

Até que percebi que não tinha como vencer essa luta. Deus queria transformar o meu coração. Eu sempre tinha vivido a vida como eu queria.  E nesse meu desejo de querer que Deus mostrasse o Seu poder, revertendo a infertilidade do meu marido, por muito sincera que eu fosse, estava latente o querer manipular a situação ao meu modo e não, segundo a vontade de Deus.

Foi então que me rendi. Entreguei tudo nas Suas mãos, abrindo as minhas. E experimentei uma paz tremenda. Finalmente foi claro para mim que a vontade de Deus era diferente da minha e eu tinha de confiar que era melhor. Eu não era menos mulher, menos mãe, pelo facto de Deus não me ter abençoado com filhos biológicos.

Hoje, quando olho para trás, quase vinte anos depois, vi o quanto aprendi, o quanto Deus me transformou e até como tem usado o processo da adopção como um plano muito melhor para nós. Mas isso, já é outra história.

Eu só quero deixar aqui a minha experiência, para que de alguma maneira, outras mulheres que passam pelo mesmo, seja infertilidade nelas ou nos seus maridos, possam ter esta esperança e confiança de que Deus tem planos diferentes para cada uma de nós. Não fomos esquecidas, não somos menos amadas, não somos menos mulheres ou incompletas. Quando Deus é Aquele que completa e preenche a nossa vida e o nosso ser, a nossa identidade está firmada Nele e isso é o bastante. Mas porque Ele sabe que temos o desejo de amar e criar filhos, Ele irá colocar no nosso caminho aquilo que for o Seu melhor e a Sua vontade para as Suas filhas.

Cada uma de nós tem uma história e um caminho para serem vividos de maneira extraordinária com Deus. O que Deus pede de nós é fidelidade e confiança. Mas não podemos ficar a olhar para a vida e história de outras mulheres e deixar que isso nos possa trazer mágoa ao ponto de até nos afastarmos de Deus. Somos únicas aos olhos de Deus e com toda a certeza, muito amadas.

É um processo difícil? Sim, é!

Vai colocar a vossa fé e o vosso casamento à prova? Sim, vai! Mas Deus irá estar sempre convosco. Ele sabe o que faz, será a vossa força e consolo. E creiam, que o que Deus tem, será algo incomparavelmente melhor do que aquilo que esperavam. Ele é sempre Bom!

 

Obs.: Texto escrito em português de Portugal. Esta plataforma não obedece ao Novo Acordo Ortográfico e respeitas as regionalidades da Língua Portuguesa de acordo com a origem de suas autoras.

Escrito por -

Vilma Cristina, casada com o Artur José há 32 anos e mãe da Vitória com 18. Tem 56 anos, dos quais, 26 andando com Cristo. Congrega na Igreja da Lapa. Vive em Alverca e trabalha no ramo imobiliário. Versículo de vida: Filipenses 1:21

4 Comentários

  • Rochelly Silveira parente

    Convivo com a infertilidade há 7anos. Já recorri a tudo. Sei q Deus sabe todas as coisas. Continuo esperando no senhor🌷

  • Um depoimento de coração aberto!❤

  • Claudia Lima

    Amém e Amém Vilma. Sim .Muitas vezes quando pensamos que Deus não nos ama e nos abndonou , Ele tem um novos planos para nossa vida. Felicidades e que Jesus continue te abençoando e a todas do blog. Claudia. Brasil- Bahia

  • Melissa Marques

    Que Precioso, esse testemunho de que Deus ,tem planos melhores para nós. Hoje eu compreendo isso, que Deus abençoe sua família.

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