Auto imagem e desejo sexual
Onde nos levam os pensamentos que decidimos nutrir?
“Nunca ninguém me há-de amar”; “vou ficar sozinha”; “ninguém vai gostar de mim pelo que sou”; “não consigo olhar para mim”.
Estas palavras parecem mesmo a verdade. Alguém nos disse. Ou fez sentir. Ou talvez tenhamos sido nós que julgamos num instante de comparação que não eramos tanto como os outros. E sentimo-nos mal com a nossa imagem. A nossa imagem é construída. Aprendemos sem ir à escola quem julgamos que somos e gostamos ou, não dessa imagem. Mas se quisermos ser rigorosos, como a nossa vida tem muitas dimensões, pode haver aspetos de que gostamos e outros que detestamos. Por exemplo, avaliar-nos como excelentes profissionais, mas com péssimo feitio. Ou então, acharmos que somos demasiado feias.
Quando pensamos coisas negativas de nós e nos sentimos mal, fazemos ou temos vontade de fazer alguma coisa. Uma pessoa que pense que as amigas a abandonaram, sente-se triste com isso e fala agressivamente com toda a gente. Ao fazê-lo, alivia a tensão emocional. Mas depois, sente culpa e percebe que as relações sofrem com isso.
O desejo sexual é um comportamento. Uma coisa que fazemos ou temos vontade de fazer e que é altamente condicionada pelos nosso pensamentos e emoções. Se uma pessoa pensar que não é atraente ou desejável ou interessante intelectualmente, a frustração, a tristeza ou a raiva podem levar a que iniba o seu desejo sexual ou a sua iniciativa ou resposta. E também podemos ter outros comportamentos de excesso, em que se procuram múltiplos relacionamentos que permitam por um momento sentir “eu sou desejada”. Já escutei muitas vezes, “pelo menos naquele momento tenho algum afeto”.
O problema nunca é o comportamento, diria eu. Porque o comportamento vem no fim do que coração começou. Então, o problema é sempre o coração, diria. É difícil ter o “desejo sexual certo”, se o meu coração fala contra mim. E é por aqui que precisamos de começar. Pelo coração. Gosto tanto de lembrar-me que Jesus explicou que deveríamos amar o próximo como a nós mesmos. Esta ação parte da crença que sendo totalmente aceites por Deus, recebemos d’Ele o amor próprio de que precisamos.
Essa ideia que tem na sua mente que parece mesmo a verdade “eu não sou bonita”, “eu não sou desejável”. É só uma ideia. Os seus pensamentos são só pensamentos. Deixa-me partilhar algo muito pessoal. Quando eu lia Provérbios, na juventude, o sábio irritava-me porque dizia que a beleza era uma ilusão (Pv 31:30). Lembro-me de me sentir feia e de achar que todas as meninas à minha volta eram mais bonitas do que eu. E eram – mas não diga a ninguém. Eram magras e eu não. Tinham lindos cabelos sedosos e eu tinha uma juba. Vestiam-se maravilhosamente e eu parecia sempre um quadro de arte abstrata (porque era criativa, vá). Só que os anos passaram, a minha vida (com muitas lutas) tem sido bonita e acho que isso se vê em mim. Olho para o meu rosto e gosto do que vejo. Continuo a não ser a mais bonita, mas as coisas boas que Deus tem feito no meu coração têm-se feito carne em mim e eu já não vejo com aqueles olhos da juventude. Vejo com uns olhos enxertados em mim por Deus.
Olhe para esses pensamentos sobre si como uma fotografia que tirou num momento. Mas essa fotografia não diz, de todo, quem é, nem qual o seu valor. Vitor Frankl, neurologista, que sobreviveu a cinco campos de concentração, na Segunda Guerra Mundial, lembra repetidamente que a nossa impressão digital única é uma memória constante do quão únicos e especiais somos. E eu vou repetir isso, hoje: você é única e especial. Agarre nas outras partes da sua imagem. Aquelas em que sabe que é uma mulher valiosa. Precisa de sair de uma imagem sobre si para recolher evidências. Provas que lhe dizem quem realmente é. As suas forças físicas e intelectuais. As conquistas na sua carreira. A diferença que a sua presença faz em casa e na sua rede de relações. Precisa de todas essas provas para pensar bem sobre si e sentir-se bem consigo. Não é um truque. É um exercício para a ajudar a pensar melhor. E isso traz uma boa sensação. Esta sensação é o princípio para um desejo sexual saudável.
Mas há vidas que não seguem o curso esperado. Há solidão; casamentos desfeitos; carreiras que não singraram; amigos que desiludiram; um corpo doente. A nossa falta de controlo na vida pode ser tão assustadora. Quando Jesus se apresenta como Alfa e Omega, princípio e fim, Ele apresenta-se como um limite, que inicia e conclui a nossa existência. É interessante que Ele se apresenta também como o caminho. Então, Ele propõe-se ser o início, o caminho e o fim da nossa vida. Esta inteireza que a cristandade nos propõe é um racional, mas também uma experiência, porque pensamos e sentimos Cristo. Olhamos para a vida através d’Ele e sentimos a vida através d’Ele.
O que significa isso? Que quando as evidências da nossa vida apontam para o fracasso, podemos levantar a cabeça, porque o Reino de Deus não se baseia na meritocracia. Mas no amor de Deus, que entregou o Seu Filho, quando ainda eramos seus inimigos. Que valor tem a Sua vida! N’Ele somos totalmente realizados e amados. Não há defeito que nos torna inaceitáveis. E isto é tão libertador! Aí, podemos sentir e não apenas saber que somos amados e valiosos. Repare, que este é um limite importante que devemos trazer à nossa mente, quando ela nos traiu e diz: falhaste; não vales. Ora, uma imagem que tem a sua origem em Jesus, há-se ser uma imagem forte. Isto é o que eu acredito.
Simone Azevedo
Obrigada Cassiana. Muito edificante e encorajador seu texto. Que Deus continue te usando poderosamente.