A Imagem da Mulher na Imprensa – Imago Mundi
“Deus disse ainda: «Façamos o ser humano à nossa imagem e semelhança (…)». Deus criou então o ser humano à sua imagem; criou-o como verdadeira imagem de Deus. E este ser humano criado por Deus é o homem e a mulher.” Génesis 1:26-27
A imagem mostrava uma mulher jovem, de longos cabelos cheios de caracóis perfeitos, com uma coloração ajustada ao tom de pele, que era rosada e de tónus exemplar, os olhos límpidos e sem rugas, dentes bem alinhados e mais brancos do que as pérolas. O corpo era esguio, os braços ligeiramente musculados, o peito alto e de tamanho apropriado para sugerir amante, mãe e esposa em doses adequadas ao gosto do homem mediano. A pose era activa e brincalhona, traduzia alegria e despreocupação. Fiquei longos segundos a admirá-la, sentindo um certo desconforto perante tanta perfeição, e um pouco perplexa pois parecia-me vagamente familiar…quando os meus olhos resvalaram para o fundo da capa de revista, fiquei em choque. Era o meu nome! Mas que imagem era aquela?
Lá atrás, no princípio de todas as coisas, Deus criou-nos segundo uma imagem. Não uma imagem qualquer, mas a Sua. Quer dizer que Ele nos dotou de um espírito, nos fez pensantes e falantes – como Ele – para que pudéssemos representar um Deus invisível perante o mundo. Para que o Criador (um ponto enfatizado 3 vezes no texto bíblico) fosse lembrado e reverenciado por todos. Para isto nos criou Deus à Sua imagem e semelhança. Na tradução para o Latim, esta ideia da «imagem de Deus» ficou definida no termo imago Dei. Meditando nessa ideia, encontro o seu contra-ponto: imago mundi – a imagem do mundo.
Numa sala do Museu Britânico, encontramos uma placa de barro com 12cm x 8cm, com mais de 2600 anos, escrita em Acádio, a língua dos babilónios, que pretende retratar a imagem do mundo. Nela podemos ver como uma das nações mais poderosas da Antiguidade, dotada de sábios e videntes, de ciência e leis avançadas, lar de uma das 7 maravilhas do mundo antigo, com províncias que se estendiam da actual Índia até à Etiópia, representava a Terra: com erros grosseiros. A capital do império surge bem no centro do mapa e à sua volta estão 8 montanhas que os babilónios acreditavam constituir tudo o que havia para conhecer para além dos seus territórios. Tinham uma visão distorcida de si mesmos e do que os rodeava, que servia a ideologia que dominava o seu pensamento autocrático e egocêntrico. Os arqueologistas chamaram a esta placa Imago Mundi. Ela representa até onde chegava a ciência do Homem.
2000 anos mais tarde, no século XV, o bispo e estudioso francês Pierre d’Ailly escrevia uma das obras geográficas mais importantes do final da Idade Média. Esta obra enciclopédica da geografia e cartografia foi um dos tratados mais consultados da época e foi utilizada por Cristóvão Colombo para desenvolver as suas ideias sobre a viabilidade de navegar no Atlântico até chegar às Índias. Como sabemos, esse plano saiu furado: em vez da Índia, Cristóvão deu de caras com um continente bem diferente…e perdeu a corrida do caminho marítimo para a Índia. Muitas vidas, muito dinheiro, muita fé foi posta nos mapas e na visão do mundo que era aceite como uma das mais avançadas do momento. D’Ailly chamou a essa obra Imago Mundi. Ela representa até onde chegava o conhecimento do Homem.
A Imago Mundi do século XXI também nos propõe um caminho e visão que pode ser observada na forma e valor que atribuímos ao que nos rodeia, a sua influência nos nossos pensamentos, decisões e acções, naquilo em que usamos os nossos recursos, em que depositamos confiança e entregamos as nossas vidas – e essa visão é evidente na imagem da mulher na imprensa. O que me mostra essa imagem? Ela reflecte-se em mim? Reflito-me nela? Como diz que a mulher deve ser? Pela minha experiência com a tal capa de revista que mostrava a minha versão “quitada” (1) a mensagem é: a minha imagem real não presta!
Mas antes de reflectir acerca da imagem da mulher temos de entender que a imprensa é agora muito mais do que os jornais e revistas (nas redes sociais, somos nós os meios de comunicação), e que, pelo menos entre a esmagadora maioria das leitoras deste blog, a internet é a principal fonte de informação – e portanto de “imagens” várias – que a mulher de hoje possui. E nesse campo tanto somos produtoras como receptoras de imagens. Na exposição recorrente a essas imagens aprendemos a pensar, modelar e comunicar de acordo com o que vemos. Importa então definir – por contraste com a imagem que me é dada pelos média e aquela que eu mesma projecto – como é a mulher segundo a imagem de Deus?
Voltemos ao texto que abriu este preâmbulo para encontrarmos 3 ideias-chave:
- Deus criou-nos de um modo único em relação ao resto da Natureza.
- Deus atribuiu-nos qualidades e características semelhantes às d’Ele.
- Deus criou um ser com duas naturezas apenas – a masculina e a feminina.
Deus revelou as Suas qualidades invisíveis (sem imagem) através de um mundo visível (2), e de um modo muito especial nas únicas criaturas que Ele fez de acordo consigo mesmo, com verdade (verdadeira imagem) e com espírito (3). Deus não fez mais nada que se assemelhasse a Si mesmo: só o homem e a mulher. Somos únicos na Criação. No princípio, concedeu a ambos domínio sobre a terra, provisão através do trabalho, e no caso específico das mulheres a força necessária para auxiliar o homem nas tarefas comuns a ambos (4). Segundo o poema de Adão (Génesis 2:23), eles são parte um do outro, as suas identidades estão intimamente ligadas. Havia equilíbrio e harmonia entre os dois. Mas se é este o ideal de Deus, se esta é a imagem que Deus pintou para mim e para ti, será que se trata de tentarmos “encaixar” nesta descrição para assim atingirmos equilíbrio e perfeição? Numa altura em que o complementarismo virou palavrão nalgumas esferas cristãs, análogo a abuso e misoginia (5), será que alguma de nós ainda tem o paraíso como seu ideal? E se sim, será a descrição desse ideal mais uma lista entre as muitas que vamos acumulando depois de lermos este ou aquele livro, blog ou publicação? Será que Deus te deu este retrato para que tentasses “pintar-te” de acordo com ele e restaurares tu mesma o Paraíso perdido?
Se Deus não o faz, certamente que tudo o resto à nossa volta, e em especial os média, estão constantemente a propôr e impôr ideais de imagem para ti e para mim. Dão-nos a cada dia uma imago mundi como modelo para recriamos a nossa própria ideia, ou a da mais recente influenciadora, do que é um “paraíso”. E realmente, as imagens estão sempre a mudar. Vejamos que novos desafios se apresentam quando se trata de retratar a mulher por imagens:
O site da Forbes (6) fala-nos de uma pesquisa encomendada dois anos após o lançamento do projeto #ShowUs (7), que resultou em mais de 14.000 fotos que “quebram estereótipos de beleza ao mostrar indivíduos com identificação feminina e não-binários como eles são, não como os outros acreditam que deveriam ser”. Por outras palavras, a imagem da mulher na imprensa esbarrou num dilema: com o que se parece uma mulher? Quem pode dizer o que é uma mulher? Se para ti e para mim,
isto pode não ser uma preocupação diária, quem trabalha na imprensa debate-se com este problema, uma vez que dependem muitíssimo dos chamados “bancos de imagem” e do que estes consideram ser a imagem da mulher. Têm de contar com esses bancos para te fornecerem imagens com que te identifiques, sim, mas que te façam desejar algo que não tens, fazer algo que não farias, provocar mudança que sirva bem a quem paga por essas imagens. Na publicidade em específico, tem de ser criada a sensação de insatisfação para que um produto possa ser vendido e produza riqueza. Têm de pensar em todas estas nuances e particularidades, nestas mudanças de estereótipo, nas ideologias do momento, se quiserem continuar a chegar a todos, a agradar ao maior número possível de consumidoras. No fim das contas, é tudo uma questão de facturação. E não és tu quem sai a ganhar. Já vamos ver porquê.
Mencionámos o mais conhecido de todos os bancos de imagem, que tem mais de 25 anos e 415 milhões de imagens. A Dra. Rebecca Swift, diretora global de insights criativos da Getty Images afirma que: “As imagens têm o poder de criar e quebrar estereótipos. Têm o poder de fazer as pessoas sentirem-se vistas, incluídas, aceites. As imagens inclusivas são a chave para construir uma sociedade inclusiva em que pessoas de todas as formas, tamanhos, origens, crenças, orientação sexual e identidades de género sintam que podem ser elas mesmas.” Ou seja, estas imagens são usadas com um propósito ideológico que está em linha com a corrente mais forte nos média. E é isto que tem formado o nosso pensamento.
Diz o site Huffpost (8) acerca da Getty que: “A empresa também compartilhou as imagens mais procuradas de mulheres em 2020, que são sobretudo fotos de mulheres em trabalho remoto. Notavelmente, embora as mulheres sejam de etnias variadas, também são todas magras. E não aparece nenhum pirralho a tentar interromper a reunião de Zoom.” A Oeste, nada de novo.
O próprio Huffpost, sendo irónico na sua apreciação da mensagem transmitida pelas imagens mais procuradas de 2020, não resiste a classificar nesse mesmo artigo as imagens de mulheres em descanso, num momento de relaxamento e calma, como sendo imagens “passivas”, por contraste a imagens activas que definem como “reais”. Isto porque a “verdadeira” mulher não pode estar em descanso, calma, meditativa, mas sim envolvida no maior número de actividades possível. Não estás já cansada deste estereótipo da modernidade? Não entendemos já que em vez de escolher ser activa ou passiva, trata-se de saber em que momento devo agir e quando devo deixar acontecer? As empresas tentam acompanhar as convulsões mais recentes da auto-imagem feminina, e reflectir as mudanças que a pandemia trouxe, mas é claro que não se atrevem a derrubar a estátua da magreza enquanto padrão único e absoluto de beleza feminina, nem a contestar a ideia de que temos de ter disponibilidade total para nos entregarmos ao deus do trabalho sem os inconvenientes “apêndices” que nos fragilizam e nos tornam obviamente humanas, como o Huffpost reconhece. O ídolo continua a pedir sacrifícios humanos que lhe encham a barriga…enquanto esvaziam a nossa.
Mas será que estas mudanças têm resultado numa maior satisfação para nós, mulheres? Vemo-nos fielmente retratadas na imprensa? Embora as imagens mais populares em 2020 mostrem uma mudança na representação da mulher, uma pesquisa no Reino Unido no mesmo ano revelou que apenas 9% das mulheres se sentem bem representadas na publicidade e apenas 7% se consideram bem representadas nas comunicações das empresas. Além disso, das mulheres que relataram sentir-se discriminadas, 45% disseram que é por causa do seu corpo, forma ou tamanho, e 36% relataram discriminação pela forma como se parecem, se vestem ou se apresentam.
Com tanta preocupação em não ofender este nem aquele, em ser tudo para todos, em ser absolutamente universal e equitativo, é bastante claro que as mulheres não se revêem nas imagens da imprensa, nem se sentem aceites pelos média exactamente como são. Com tanto esforço despendido pela Getty Images em criar imagens que tenham “o poder de fazer as pessoas sentirem-se vistas, incluídas, aceites”, parece que falhou qualquer coisa. Mas então… que imagem nos falta?
No livro de Provérbios encontramos uma mulher cuja perfeição causa angústia até entendermos que ao invés de pretender escravizar-nos a um molde impossível de beleza ou prosperidade, ou gerar mais uma lista pragmática de 7 passos para atingir o nirvana, ela é conforme à imagem e semelhança de Deus. Deus atribui a essa mulher exemplar um valor incalculável, dá-lhe a confiança e admiração dos seus pares, filhos e marido, alegria em tudo o que faz, energia e força para ela e para os outros, autonomia e integridade, compaixão e misericórdia para quem precisa, poder e sabedoria, e veste-a com os melhores vestidos que há: a força e a dignidade. Olhando para nós mesmas com objectividade, percebemos que a imago Dei que toda a Humanidade possui inerentemente (9) parece estar comprometida. O que aconteceu então e porque é que essa imagem e semelhança parecem perdidas na História?
Algo mudou a partir do que os cristãos chamam «a Queda». A nossa imagem passou a originar vergonha em vez de ser a representação verdadeira do Deus único, vivo, pensante e falante (10). A autoridade do homem sobre a Terra passou a ser opressão e abuso, o auxílio e companheirismo que só a mulher podia prestar ao homem passou a ter um peso excessivo, e a gerar rebelião e desejo de domínio. É como se Deus tivesse pintado um belo quadro, com as melhores tintas e pincéis, na mais fina tela, e nós tivéssemos agarrado em tudo e feito uma bela borrada. Como propõe o Pr. John Piper no seu Podcast “Ask Pastor John”(11), o homem e a mulher quiseram outra imagem, diferente da que lhes tinha sido dada. Diz ele: «aquando da queda, Satanás persuadiu-me de que a minha imagem é mais bela, mais perfeita, mais poderosa e admirável do que a do próprio Deus.» Desde então, assistimos a um desfile de máscaras: o homem e a mulher cedo começaram a representar-se a si mesmos por imagens que acompanham os ideais de cada época – o valente guerreiro, o providenciador, o digno de temor e reverência, a melhor cuidadora, a mais bela, a mais perfeita, o melhor líder, o grande criador, o mais amoroso e desejável, o inculpável, a mais em forma, a super-mãe, a autora e aperfeiçoadora da minha própria fé…uma deusa, em suma. Porque Eva rejeitou a ordem e a direcção de Deus, e a Sua imagem e semelhança em favor do “conhecimento do bem e do mal” (ou seja, a ideia humana de justiça, equidade, amor, alegria e compaixão), e esse conhecimento lhe trouxe a vergonha e culpa de perceber o mal que tinha feito, os vestidos de força e dignidade que Deus lhe tinha dado passaram a não “caber” no seu corpo. E a sua nudez passou a ser um peso.
Proponho que reflitamos então no que temos feito para nos cobrir, no que temos aceite como “vestidos”, nas imagens com que enchemos a cabeça e o coração todos os dias. Imagens que nos falam de quem somos e do nosso lugar no mundo. Que nos examinemos a nós mesmas e à nossa Imago Mundi.
Como te tens vestido? A quem tens revelado – que valor, que ética, que imagem tens dado de ti mesma? És como a placa de barro dos babilónios, cheia de orgulho e erro, ou o mapa do bispo D’Ailly, abrindo um caminho de engano para os que vêm depois de ti? Trazendo morte e devastação? Tens tentado ser a “valente guerreira, a providenciadora, digna de temor e reverência, a melhor cuidadora, a mais bela, a mais perfeita, a melhor líder, grande criadora, a mais amorosa e desejável, a inculpável, a
mais em forma, a super-mãe, a autora e aperfeiçoadora da tua própria fé”? Nas palavras do famoso Dr. Phil: “How’s that working for ya?” (12) Ao que parece, não muito bem…
Foi recentemente revelado que pelo menos uma das redes sociais que mais usamos sabia que o seu efeito em nós, em especial nas meninas, é danoso. Segundo documentos internos que vazaram para o público, o Facebook está consciente de que a sua aplicação Instagram torna os problemas de imagem corporal piores para as adolescentes. Transcrevo aqui parte do artigo do jornal inglês The Guardian(13):
«Disseram os autores do estudo interno do Facebook: “Tornamos os problemas de imagem corporal piores para uma em cada três adolescentes”; “Trinta e dois por cento das meninas adolescentes disseram que quando se sentiam mal com os seus corpos, o Instagram as fazia sentir-se pior”; “Os adolescentes culpam o Instagram pelo aumento na taxa de ansiedade e depressão. Esta reação foi espontânea e consistente em todos os grupos.”
Entre as descobertas mais preocupantes estava que, entre os utilizadores que relataram pensamentos suicidas, 13% no Reino Unido e 6% nos Estados Unidos acreditavam que estavam ligados à sua exposição às imagens no Instagram. Outro estudo transatlântico descobriu que mais de 40% dos utilizadores do Instagram que relataram sentirem-se “pouco atraentes”, disseram que a sensação começou na aplicação; cerca de um quarto dos adolescentes que relataram sentir que “não eram bons o suficiente” disseram que começou no Instagram.
As conclusões internas do Facebook ecoam uma série de estudos que implicam as redes sociais numa epidemia de problemas de saúde mental entre os jovens. Em 2017, a YoungMinds e a Royal Society for Public Health publicaram uma pesquisa destacando o Instagram como tendo “o impacto mais negativo sobre o bem-estar mental dos jovens de todas as redes sociais”.»
Se analisarmos o resultado do estudo que este blog empreendeu (Vida e Sexualidade) junto de quase 6000 utilizadoras, quase metade revelou que só se sentia atraente às vezes, cerca de 40% revelavam só sentir desejo sexual pelo cônjuge às vezes, raramente, ou nunca. Haverá alguma ligação com as imagens com que a imprensa nos bombardeia de corpos irrealistas, que nos deixam insatisfeitas com a nossa “porção”?
Eu e tu temos estado a entregar a nossa imagem a entidades que têm feito muito mal a muita gente. Cabe-me a mim e a ti aferir quanto à mensagem que temos passado, e que temos permitido que passe para nós, ao termos “comunhão” com certos meios de comunicação. Que imagem temos mostrado?
Deus criou o homem e a mulher para o representarem perfeitamente. Fez-nos para sermos um reflexo vívido e nítido d’Ele mesmo, uma imagem que O glorifica, e não a versão esborratada, os rabiscos confusos, as emendas constantes, os traços grosseiros na tela do mundo que parecemos ser agora nós, homens e mulheres. Já não parece importar sermos a imagem do Deus vivo, quando em tantas instâncias estamos obcecadas e dominadas por uma necessidade de mostrarmos a “melhor imagem de nós mesmas”.
Mas que imagem há, bem melhor do que a que consegues projectar? Que imagem não precisa de Photoshop ou filtros do Instagram? Que imagem é tão perfeita que case perfeitamente com a imagem da mulher de Provérbios 31?
Há alguém que cumpre perfeitamente todas as exigências. Que satisfaz por completo o desejo de perfeição absoluta e santidade que Deus tem, que veio até nós na imagem mais indesejável, menos sexy, menos apropriada, mais chocante que se possa imaginar. Nasceu pobre, cresceu remediado, comeu com intocáveis e párias, foi apupado e enxovalhado, submeteu-se a autoridades terrenas indignas para servir o propósito maior de obedecer a Deus. Foi amaldiçoado na vida e na morte. Não foi fácil conviver com Ele, nem ver n’Ele a imagem e semelhança de Deus. Até mesmo quem caminhou com Ele lado a lado durante 3 anos, quem comeu, dormiu, orou, chorou e riu com Ele, teve dúvidas. No evangelho de João, Filipe pede a Jesus: “Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta. Jesus respondeu-lhe: Filipe, há tanto tempo que vivo convosco e ainda não me conheces? Aquele que me viu, viu também o Pai.”
A imagem de Deus está perfeitamente representada em Jesus. Não se trata de cabelos longos ou curtos, pele clara ou escura, magro ou gordo, alto ou baixo, de túnica e sandálias ou de vestes reais: trata-se de carácter. E esse carácter não nos vem pelas boas obras que fazemos (14) nem pelo conhecimento teológico que acumulamos (15), nem (pasme-se!) com o milionésimo seguidor do Instagram. As que já lá chegaram, sabem que há sempre quem tenha mais sucesso do que nós…
Umas dezenas de anos depois do discurso de Jesus a Filipe, um homem que tinha estudado com os melhores, que tinha o respeito dos seus pares e estava já a acumular fama pelo zelo por Deus que demonstrava, entendeu finalmente que essa Imago mundi que tanto lhe agradava não passava de lixo. Que há só uma imagem que traz restauração, redenção, que dá vida nova, que faz do fraco forte e traz o perdido ao caminho da salvação. Que se fomos feitas à imagem e semelhança de Deus, Jesus é a imagem do próprio Deus. Na carta aos crentes de Colossos, Paulo escreve uma ode a Jesus. Não resisto a transcrevê-la:
“O Filho alcançou-nos a redenção e o perdão dos nossos pecados. Ele é a imagem do Deus invisível: nascido do Pai antes da criação do mundo. Foi por ele que Deus criou tudo o que existe no Céu e na Terra, o que se vê e o que não se vê, as forças espirituais, os domínios, as autoridades e os poderes. Foi por ele e para ele que Deus criou tudo. Já existia antes de tudo e é ele que dá consistência a tudo o que existe.Ele é a cabeça do corpo que é a igreja. Ele é a origem, é o primeiro dos ressuscitados, de modo que tem o primeiro lugar em tudo. Porque Deus achou por bem estar totalmente presente no seu Filho, e também, por meio dele, reconciliar consigo mesmo tudo o que existe na Terra e no Céu, estabelecendo a paz pelo seu sangue derramado na cruz.” (16)
É claro que da imprensa, não podemos esperar esta imagem nem esta redenção. Afinal, o espírito desta era tem cegado muitos e muitas (17). Não é nessas imagens que está a mudança para o mundo, a nova vida, a nova mentalidade, a justiça perfeita e a compaixão que afirmam ter. Como esperar algo de bom de tal proveniência? A nossa imago Dei ficou deformada, o espelho de Deus que já fomos está sujo, embaciado… As boas notícias é que não se trata de te limpares a ti mesma. Aquele que morreu desgraçado, ressuscitou glorificado, e pela fé n’Ele deu-te a possibilidade de também seres feita nova, santa, pura.
Quando alguém “nasce de novo” é feito nova criatura, que já não depende da sua capacidade de obedecer – como Adão e Eva – mas na do próprio Jesus. Deus contigo! Na carta aos Romanos, Paulo lembra este milagre:
“Pois aqueles que Deus de antemão conheceu também os predestinou para serem semelhantes ao seu Filho. Desse modo, o Filho é o primeiro entre muitos irmãos. Deus
chamou aqueles que predestinou. Aos que chamou, também justificou e aos que justificou também glorificou.” (18)
Se és como eu, precisas de ser lembrada constantemente da tua nova imagem. De que se fomos criadas à Sua imagem e semelhança foi para que “Deus seja lembrado e reverenciado por todos.” Temos de deixar de pintar ou deixar que nos pintem um retrato diferente daquele que o próprio Deus criou para nós. Temos de deixar de exibir a nossa beleza física, a nossa bondade, a perfeição dos nossos filhos e casa, as nossas conquistas amorosas, intelectuais e até as “espirituais”! Temos de deixar os trapos velhos e vestir roupa nova, os vestidos de honra e glória da mulher de Provérbios, que o próprio Jesus comprou para ti ao preço mais caro de todos: o Seu sangue.
Se Ele, que é Deus, se submeteu ao Pai para poder glorificá-Lo, ainda mais tu, filha do pó, tens de te submeter a Jesus. Entrega-Lhe a tua imagem, e começa a reflectir a d’Ele.
Lembra-te do que Ele mesmo te disse: “Vocês são o sal do mundo. Mas se o sal perder as suas qualidades, poderá novamente salgar? Já não presta para nada, senão para se deitar fora e ser pisado por quem passa. Vocês são a luz do mundo. Uma cidade situada no alto de um monte não se pode esconder. (…)Do mesmo modo, façam brilhar a vossa luz diante de toda a gente, para que vejam as vossas boas ações e deem louvores ao vosso Pai que está nos céus.” (19)
Então…força aí! Usa as redes sociais quantas vezes quiseres, mas coloca-te esta pergunta: “É acerca de Deus ou é acerca de mim?” Há poder numa imagem, mulher, poder de vida ou de morte. Usa-o sabiamente.
Deixo-te com uma mensagem final que nos lembra a todas da importância que temos perante toda a Criação e a imagem do futuro que nos espera.
“O mundo todo espera e deseja com ânsia essa manifestação dos filhos de Deus. Na verdade, o mundo ficou sujeito ao fracasso, não por sua vontade, mas porque era esse o plano de Deus. Entretanto, Deus manteve-o sempre nesta esperança: Um dia, o mundo será libertado da escravidão e da destruição, para tomar parte na gloriosa liberdade dos filhos de Deus.” (20)
Ámen
1. “Quitado” é um termo usado em Portugal que se aplica aos carros que foram alterados para competirem nas corridas “tuning” – parecem um carro comum mas estão cheios de melhoramentos, na carroçaria, luzes, pneus e motor.
2. Romanos 1:20 “De facto, desde a criação do mundo, Deus que é invisível mostrou claramente o seu poder eterno e a sua divindade nas suas obras. Por isso não têm desculpa.”
3. Génesis 2:7 “O Senhor Deus modelou o homem com barro da terra. Soprou-lhe nas narinas e deu-lhe respiração e vida. E o homem tornou-se um ser vivo.”
4. Nalgumas traduções “adjutora”, do original ézer que significa a força, o auxílio. Este exacto termo é usado noutros textos para definir Deus enquanto o nosso Auxiliador. O seu emprego em relação à mulher não infere uma inferioridade de valor, portanto.
5. Beth Moore, oradora e autora de estudos bíblicos vários que cortou laços com a Convenção Baptista do Sul dos EUA, recentemente qualificou a doutrina de complementarismo como uma questão não-fundamental, que legitima a misoginia por atribuir à mulher papéis diferentes dos do homem na igreja. O complementarismo tem por base não o mérito pessoal mas o relato de Génesis e as várias cartas pastorais do Novo Testamento que lidam com as responsabilidades de cada um na igreja e no lar, entre outros textos bíblicos.
6. Revista americana de negócios conhecida pelos seus rankings (400 pessoas mais ricas; 2000 empresas mais importantes).
7. Um projecto que pretende promover retratos mais autênticos e inclusivos de mulheres, numa colaboração entre a Getty Images, a marca Dove e a plataforma Girlgaze (cujo objectivo é “empoderar” mulheres da geração Z para a criatividade e o empreendedorismo).
8. Originalmente Huffington Post, é um site liberal que agrega notícias e peças jornalísticas, fundado por Arianna Huffington como contra-ponto ao site conservador Drudge Report.
9. Génesis 9: Àquele que tira a vida a um homem, outro homem lhe tirará a vida, pois o ser humano foi criado como imagem de Deus; Tiago 3:8-9 “Mas a língua, ninguém é capaz de a domesticar. É um mal incontrolável; está cheia de veneno mortal. Com ela bendizemos o Senhor, nosso Pai, e com ela amaldiçoamos as pessoas que foram criadas à imagem de Deus.“
10. Antes do pecado original, em Génesis 2:25 “Tanto o homem como a mulher andavam nus, sem sentirem nenhuma vergonha por isso.”
11. Disponível no site www.desiringGod.org.
12. “Que tal está a correr?” Dr. Phil McGraw, psicólogo e apresentador famoso, costuma dizer isto quando confronta os seus convidados com os seus esforços inúteis em mudarem uma situação difícil.
13. https://www.theguardian.com/technology/2021/sep/14/facebook-aware-instagram-harmful-effect-teenage-girls-leak-reveals
14. O jovem rico, em Mateus 19: 16-22 , fazia tudo o que era certo…só lhe faltava uma coisa: seguir a Jesus sem reservas. “(…) vem e segue-me. Mas o jovem, ao ouvir isto, foi-se embora triste porque era muito rico.”
15. Nicodemus era um doutor da lei do Antigo Testamento, e ainda assim não tinha o mais importante. Em João 3:5-7 lemos: “Jesus respondeu: Fica sabendo que só quem nascer da água e do Espírito é que pode entrar no reino de Deus. O que nasce de pais humanos é apenas humano, o que nasce do espírito é espiritual. Não te admires por eu te dizer: é preciso nascer de novo.“
16. Colossenses 1:14-22
17. 2 Coríntios 4:4 “Eles não acreditam, porque o deus deste mundo cegou os seus entendimentos, para não verem a luz maravilhosa do evangelho de Cristo, que é a imagem de Deus.“
18. A palavra cristãos que dizer literalmente “pequenos Cristos”.
19. Mateus 5:13-14
20. Romanos 8:19
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