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A conversão de mulheres maduras

Foi como acordar após ter passado décadas em profundo sono. Nada mais era igual. Olhava à minha volta com estranheza e espanto. Caminhava pelas ruas da vizinhança onde moro desde sempre como se nunca houvesse passado por ali antes. Casa, filho, família, trabalho, amigos… Tudo estava absoluta e completamente diferente. Porém, ao olhar para mim mesma, não estranhei, mas algo muito pior me invadiu: vergonha e repulsa! Foi assim que eu, uma mulher de 35 anos de idade, professora, historiadora, mãe de um pré-adolescente, divorciada, simpatizante do feminismo, se sentiu ao ser convertida e salva pela Graça de Jesus Cristo.

Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação; as coisas antigas já passaram, eis que tudo se fez novo! Tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por intermédio de Cristo e nos outorgou o ministério da reconciliação.
2 Coríntios 5.17-18

O Senhor já trabalhava em mim há um tempo, mas a forma como aconteceu me dava a impressão de que tudo havia sido de um dia para o outro. Em uma noite de sábado como outra qualquer, eu estava profundamente triste, pensando nas bobagens que havia feito nos últimos meses. Comecei a refletir cada vez mais naquelas bobagens, e mais e mais… Até que já não era somente um monte de bobagens, mas coisas que se tornavam cada vez mais terríveis. Fui tomada por uma angústia profunda e por um choro descontrolado, até que somente uma única palavra restou em minha cabeça: PECADO! Ali em minha sala, sozinha, em meio a lágrimas, dor, desespero e arrependimento, caí no sono. Ao acordar, nada mais era como até a noite anterior. Foi como despertar da anestesia de um “transplante mental”.

Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne. Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis.
Ezequiel 36.26-27

Eu já me declarava cristã convertida muitos antes deste episódio. Ia à igreja quando não estava muito cansada, quando não estava muito frio ou muito quente, e, às vezes, até encarava uma chuvinha para assistir ao culto. Chegando lá, cantava músicas lindas, ficava profundamente emocionada, e saía toda feliz “tomando posse da vitória”. A Bíblia, eu lia de vez em quando. Fechava os olhos, pensava em algum assunto e a abria, escolhendo algum versículo encorajador. Nem sempre dava certo. Às vezes, o versículo me desanimava, então eu rapidamente encontrava um outro que me deixasse animadona novamente. Mas agora não. Agora, eu já não conseguia pensar como antes, e, por causa disso, não conseguia fazer as mesmas coisas. Isso mesmo. Eu não era mais aquela que sempre havia sido, não podia mais continuar fazendo aquilo que havia feito até então.

Foste chamado, sendo escravo? Não te preocupes com isso; mas, se ainda podes tornar-te livre, aproveita a oportunidade. Porque o que foi chamado no Senhor, sendo escravo, é liberto do Senhor; semelhantemente, o que foi chamado, sendo livre, é escravo de Cristo.
1 Coríntios 7.21-22

A conversão é sem dúvida um momento esplêndido e inigualável, mas lidar com ela nos faz passar por períodos bastante embaraçosos. Como se não bastassem as lutas internas e perenes do espírito contra a carne, agora eu precisaria administrar como essa nova mulher se comportaria dentro daquela “velha vida”. Como mudar comportamentos praticados por 35 anos, e como explicar essas mudanças às pessoas ao meu redor. Meu filho sofreu bastante, porque estava ainda se adaptando ao meu divórcio, e agora mais essa. Eu falava para ele o contrário do que havia ensinado até então. Tive não somente que assumir meus erros e pecados perante ele, mas também pedir perdão ao meu menino. Sem dúvida alguma, o mais difícil foi dizer a ele para esquecer tudo que eu havia dito e ensinado até aquele momento. Creio que ele achou que eu estava ficando maluca.

Então, disse Jacó à sua família e a todos os que com ele estavam: Lançai fora os deuses estranhos que há no vosso meio, purificai-vos e mudai as vossas vestes.
Gênesis 35.2

Porém, não é só com os filhos que nós, mulheres convertidas em plena maturidade, temos que lidar. Há muita coisa a ser passada a limpo. Há muitas conversas, muitas confissões, muitos pedidos de perdão, muito a ser transformado. A conversão na maturidade desmascara muito mais coisas do que a conversão de uma criança ou adolescente. Somente pela misericórdia de Deus conseguimos sair de casa e olhar nos olhos das pessoas após o novo nascimento.
As mulheres da minha geração foram adestradas segundo o modelo feminista. Criadas para a autonomia, liberdade sem limitações e desenvolvimento intelectual. Conquistaram os mais altos postos de trabalho e sentem orgulho por não terem se prendido a um relacionamento ou a filhos. Porém, conhecer a Jesus Cristo mostra o quão ridículas nós somos ao abrirmos mão de algo infinitamente mais valoroso e concernente ao ser mulher para abraçar o lado frio da masculinidade. O que fazer então? Como ser nova criatura, vivendo a mesma “velha vida”?

Dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me.
Lucas 9.23

Não há como não mudar simplesmente tudo. O caminho é tão estreito que vamos deixando pedaços de nós conforme avançamos. Rejeitar e abandonar o pecado significa mudar a forma de falar, de vestir, os lugares que se frequenta, o lazer, o estudar, e até mesmo se afastar de amigos queridos e antigos. Confesso que isso foi algo difícil para mim. Alguns amigos vivem a rodear minha lembrança, mas precisei abrir mão da convivência com eles para seguir a Cristo e sei que jamais me arrependerei dessa escolha. Essa é outra importante face da conversão na maturidade, pois sabemos o quanto a obediência é importante. Não estou querendo dizer com isso que, por sermos maduras, somos adoravelmente obedientes ao Cristo, Jesus. Não. Mas sabemos a importância da obediência, porque adoramos quando os outros nos obedecem. E esse lado autoritário, embora seja muito difícil de ser domado, reconhece a importância da autoridade.
Deixe-me explicar isso melhor. Crescemos sendo estimuladas a tomar o poder, somos estimuladas a sermos donas do próprio nariz, não nos sujeitarmos aos padrões patriarcais e blá, blá blá. Somos mães, esposas, donas de casa, pedreiros, motoristas de caminhões, astronautas, jogadoras de futebol, lutadoras de MMA e adoramos todas as atividades em que somos colocadas no topo da pirâmide. Admiramos quem detém o poder, a liderança, o comando. Portanto, convertidas pela Graça, sabemos o quão importante é uma autoridade superior e obedecemos, mesmo sem concordar, e por muitas vezes murmurando.

Semelhantemente, ensina as mulheres maduras a serem reverentes quanto a seu estilo de vida, não caluniadoras, não viciadas em muito vinho, mas capazes de ensinar o que é bom. Dessa forma, estarão aptas para orientar as mulheres mais jovens a amarem seus maridos e filhos, a serem equilibradas, puras, dedicadas a seus lares, a cultivarem um bom coração, submissas a seus maridos, a fim de que a Palavra de Deus não seja difamada.
Tito 2.3-5

Em sua soberania, o Senhor nos chama durante a maturidade para que possamos instruir às mulheres mais jovens, pois conhecemos o que o mundo tem para nos oferecer e também o que Cristo nos oferece. Faz parte do nosso processo de santificação contar aos mais jovens o quantos nossos erros e pecados foram destrutivos e o quanto o mundo nos engana. Devemos usar nossas vidas como testemunho do que Jesus pode fazer e não fazê-lo é omissão. Nossa história de vida e nosso resgate deve servir de alavanca para a pregação do Evangelho, mesmo que isso traga sobre nós rótulos como o de fanática, bitolada, ignorante, retrógrada. O momento da conversão faz parte do plano perfeito de Deus para nós, então devemos utilizar cada ano que passamos longe do Senhor para mostrar a todos o quanto servir a Cristo é maravilhoso e revigorante. Oro para que a nossa maturidade seja também espiritual, para que nada nos impeça de evangelizar, e glorificar ao Santo nome do Senhor.

Portanto, também nós, considerando que estamos rodeados por tão grande nuvem de testemunhas, desembaracemo-nos de tudo o que nos atrapalha e do pecado que nos envolve, e corramos com perseverança a corrida que nos está proposta, olhando fixamente para o Autor e Consumador da fé: Jesus, o qual, por causa do júbilo que lhe fora proposto, suportou a cruz, desprezando a vergonha, e assentou-se à direita do trono de Deus.
Hebreus 12.1-2

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Débora Cristina é mãe, esposa que busca em oração a restauração de sua família, historiadora, estudante de teologia, pecadora resgatada pela graciosa e infinita misericórdia do Senhor.

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