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Esperança no sofrimento, ensina-nos Pedro

Vivemos num mundo de sofrimento. Há pouco tempo, ouvia esta afirmação: “Se não estás num momento de sofrimento, louva a Deus. Mas, mais tarde ou mais cedo, vais sofrer. Todos vamos. Ao nosso redor, no nosso mundo, temos pessoas a sofrer e temos de aprender a falar de sofrimento de forma bíblica”.  Acreditamos que a palavra de Deus fala sobre sofrimento e ensina-nos como viver no meio do sofrimento. O grande desafio é que consigamos conjugar sofrimento e esperança.
Na primeira carta de Pedro, vemos logo no início que o processo de lidar com o sofrimento é sempre um assunto plural, de grupo, de comunidade. Acredita-se que Pedro escreveu esta carta de Roma, durante o império de Nero, uns anos antes da dramática perseguição de cristãos na qual o próprio Pedro veio a ser mártir. Nesta carta há um sentido forte de perseguição, um alerta para quando chegarem tempos cada vez mais difíceis.
Pedro pede que os cristãos vivam de uma maneira que brilhem ao seu redor. Este mundo não é a nossa casa. Pedro escreve a todo o povo de Deus, judeus e gentios, que vivem nestas províncias romanas, que vivam de acordo. Não esqueçamos “eleitos”, porque isto significa “escolhidos”. E toda a gente sabia que os eleitos de Deus eram os judeus, mas agora Pedro vem dizer que os eleitos são judeus e gentios. Esta carta é atual e para nós, que como povo de Deus somos exilados eleitos.

Aos olhos de Deus somos assim: eleitos pelo Pai. Deus já nos conhece desde sempre. Não precisamos criar a nossa identidade, somos conhecidos desde todo o sempre. Deus soberano planejou que viesses a ser um cidadão do céu, sendo que por instantes te sentirás como um exilado. Pedro ajuda-nos a sentir este estado de exílio, não como perdidos, mas como crianças escolhidas a caminho de casa.

Nesta caminhada, somos santificados pelo Espírito. Somos tornados exilados para aprendermos a obedecer a Jesus. Obediência é um chamamento a longo prazo a todos os que foram tornados santos pelo sangue de Cristo. A nossa identidade de exilados não elimina o sofrimento, mas ajuda-nos a ver Jesus, iluminando ele próprio Deus. Com esta identidade podemos encontrar graça e paz multiplicadas na nossa vida.

Todos precisamos de esperança. No fim, só há uma esperança a que nos possamos agarrar: Jesus morreu por nós e ressuscitou para nos dar salvação. Qual é a nossa esperança? A nossa esperança viva é Jesus, o próprio.
Em Jesus temos uma herança que não passa, que nos é dada, e está guardada no céu para cada um de nós. Esta segurança deve descansar-nos. Passamos a vida a tentar conservar coisas, ter coisas. Tentamos impedir que os nossos corpos envelheçam, gastamos as nossas energias a tentarmos conservar-nos, mas não podemos. E esta herança que não se estraga nem corrompe, está guardada segura para nós.

Temos problemas em relacionar-nos com a segurança desta herança porque pode ser o caso de a nossa vida aqui na terra nos consumir a ponto de não conseguirmos pensar em mais nada no imediato. Mas Pedro, quando escreve esta carta, pensa nisso. Deus não guarda apenas a herança, mas guarda-nos no “entretanto” também. Deus guarda-nos!

Pedro começa com o futuro, dizendo-nos onde estamos nesta história de Deus. Mas Pedro não ignora o presente. Um presente que inclui combinação de alegria com sofrimento. Também usa a expressão: “Um pouco de tempo”… O tempo de Deus, certamente. Mas olhando em eternidade, este nosso presente é um simples respirar. Por um pouco de tempo, perdemos entes queridos. Por um pouco de tempo, choramos. Por um pouco de tempo, somos pobres, sofremos. Todo o corpo de Cristo sofre neste “instante”. Mas, e a alegria? A alegria do presente? Como é possível? Não sei. Mas já a vi. Já a vi no rosto de alguém prestes a partir deste mundo e com a alegria de ser recebido por Deus.

Como podemos aprender a viver assim, e ensinar a viver assim? Com a alegria no meio de todo o tipo de desafios? Devemos inspirar-nos na Palavra de Deus, conhecer o seu filho que morreu no nosso lugar, para que o Espírito nos inunde e ajude a seguir Jesus. Com ele, o nosso exílio é vivido com esperança.
O que é que Pedro quer que façamos com estas palavras? No final da carta: “fiquem firmes na graça de Deus”. Lemos graça no princípio, lemos graça no fim. Esta carta aponta-nos para a graça que nos faz nascer para a esperança de uma nova vida. Mesmo no meio de sofrimento, a sua graça será suficiente. Não perdemos a esperança.

Escrito por -

Ana Rute é casada há 18 anos com o Tiago (pastor presidente da Igreja da Lapa, em Lisboa), mãe da Maria (16 anos), Marta (13 anos), Joaquim (12 anos) e do Caleb (10 anos). Tem 43 anos, nasceu e cresceu em Lisboa, Portugal. Mora nos arredores, em Oeiras, junto ao mar.

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