A canção de Cristo ao nosso coração
Nós fomos criados, homens e mulheres, pó e carne, como seres insuficientes, incompletos, instáveis, famintos e sedentos. E nesse conjunto de elementos insuficientes, incompletos, instáveis, famintos e sedentos, estão os nossos sentimentos.
Sentimentos, sabe? Alegria, vergonha, culpa, tristeza, raiva, medo.
Sentimentos são instáveis por natureza. Eles são efêmeros, vacilantes. A minha filha de dois anos é uma clara prova disso, quando a raiva dela por ter que colocar o casaco de repente se transforma em alegria por passear.
Sentimentos foram criados por Deus. E, como todo o restante da Criação, foram criados para nos atrair a Deus. Como mariposas à luz. Esse é o caminho natural dos sentimentos. Esse era o plano original. É uma forma sublime de Deus amarrar nosso corpo e alma num único momento, de nos fazer sentir borboletas no estômago quando aquele rapaz sorri pra gente. De nos fazer arrepiar quando o medo agarra nosso coração. De nos fazer brilhar e sorrir incontrolavelmente quando a alegria toma conta da nossa alma. De fazer escorrer lágrimas quando a tristeza invade nossa vida. E de relaxar os músculos do nosso corpo quando nos deleitamos de paz. Sentimentos são uma dança do corpo e da alma… uma dança que deveria seguir à Música do Criador.
No entanto, a Queda abriu um abismo entre nós e Ele. A Queda abafou a Música que antes ouvíamos e que dava ritmo e propósito aos nossos sentimentos. Fomos lançados, então, no caos de procurar um ritmo próprio, à parte de Deus. Seguimos uma música obscura, introspectiva, que fecha as janelas e abafa o ar, que individualiza os sentimentos e corta os laços tanto entre criatura e Criador, como entre criaturas. A música obscura que quebra a harmonia entre homem e mulher, e nos mergulha numa guerra infinita de sentimentos.
Alguns desprezam a dança e tornam-se apáticos, obcecados pela frieza da racionalidade sem coração. Outros obcecam pela dança e perdem-se na espiral da valsa cada vez mais obscura e ligeira que atrairá a loucura e a eventual apatia.
Todo sentimento vazio de Deus é um sentimento vazio de propósito.
Sentimentos foram criados para nos fazer olhar para Cristo. Eles foram criados para que víssemos a glória da suficiência de Deus. E, às vezes (muitas vezes), nossos sentimentos, a nossa dança, está fora do compasso por causa da música obscura que tentamos seguir. Muitas vezes, iramo-nos e pecamos. Alegramo-nos com o pecado. Preocupamo-nos e temos medo por não confiarmos em Deus. Envergonhamo-nos de coisas fúteis.
Mas quando dançamos Tristeza, Cristo canta Consolo.
Quando dançamos Cansaço, Cristo canta Descanso.
Quando dançamos Ira, Cristo canta Justiça.
Quando dançamos Vergonha, Cristo canta Adoção.
Quando dançamos Culpa, Cristo canta Perdão.
Quando dançamos Medo, Cristo canta Providência.
Quando dançamos Angústia, Cristo canta Paz.
Quando dançamos Alegria, Cristo canta Comunhão.
A Música está tocando; nosso Salvador está cantando. Voltar ao ritmo certo é difícil, mas não impossível. A canção do nosso Salvador ecoa pela Bíblia inteira.
Há tempos atrás, eu dançava vergonha, tristeza e ira ao tom da minha própria música. Eu não aceitava a vergonha e permiti que a tristeza e a ira me engolissem por inteira. Eu estava dançando à beira do abismo da morte. E por vezes, esse era meu desejo consciente.
Mas sentimentos não foram feitos para serem engolidos ou nos engolirem. Eles foram feitos para serem reconhecidos, sentidos e apreciados ou confrontados. Eles foram feitos para revelarem as profundezas da nossa alma. Quando encobertamos ou ignoramos tristeza, ira, vergonha, culpa, ansiedade e angústia, fingimos que Cristo não está cantando para nós. Negamos a nossa natureza insuficiente e carente da Música Divina. Buscamos músicas de Desespero, Preguiça, Vingança, Desprezo, Farisaísmo, Ansiedade, Morte e Solidão.
Negamos nossa natureza de seres insuficientes ao buscarmos nossa própria música longe de Deus.
Mas a Música toca; nosso Salvador canta. Ele cantou para mim. Voltar ao ritmo certo foi difícil, mas não impossível. Meus passos precisam ser corrigidos diariamente. Meus sentimentos continuam imperfeitos, mas quando ouço meu Amado cantar, Ele me ensina também a dançar.
Não há lugar melhor para ouvir nosso Salvador cantar do que a Bíblia. Quando leio a Bíblia, sua Música ecoa pelas páginas, pelas histórias. Mesmo se meu sentimento não estiver alinhado ou se eu estiver apática, busco ouvir meu Amado cantar. E, pela Graça, essa será a música que ecoará na minha mente ao longo dos dias.
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