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O que é ser bendita

Em 1976, Elisabeth Elliot escreveu uma série de cartas para sua única filha Valerie. Por meio de histórias, conselhos e reflexões, as anotações oferecem algumas considerações sobre “o significado da feminilidade” 1. Prestes a se casar, a jovem recebe de sua mãe tesouros registrados em papel que, hoje, também podemos usufruir, já que o material foi publicado em forma de livro com o título “Let me be a woman” (Deixe-me ser uma mulher, em tradução livre; infelizmente, a obra ainda não foi publicada em português).
Dividido em pequenos, mas numerosos capítulos, o livro reflete verdades escritas a sangue e suor na vida da autora. Não há como negar que cada princípio ali passado carinhosamente de mãe para filha foi resultado da tremenda obra de Deus realizada em Elisabeth. Ela escreve, “(as notas) vêm de (eu) ser uma mulher, e buscando ser – solteira, casada, viúva – uma mulher para Deus”.
Em 1956, com três anos de casada e apenas 10 meses após o nascimento de Valerie, seu marido Jim Elliot foi assassinado com mais quatro homens enquanto tentavam estabelecer contato com uma tribo indígena do Equador. A morte trágica de seu esposo e amigos não pararam os esforços e amor pelos não alcançados, e mais tarde ela trabalhou durante dois anos como missionária entre os nativos que haviam matado seu companheiro.
Treze anos após a morte de Jim, Elisabeth se casou com o professor de teologia Addison Leicht, mas ele faleceu quatro anos mais tarde. Então, em 1977, um ano após a publicação de “Let me be a woman”, a autora se casou com Lars Gren, um capelão universitário, e os dois permanecem juntos até a morte de Elisabeth, em junho de 2015.
Tantas provações não foram infrutíferas. O ministério de Elisabeth como autora, palestrante e apresentadora de rádio impacta cristãos de todo mundo até hoje. Entre os mais de 20 livros que ela escreveu, o mais conhecido é “Através dos Portais do Esplendor”, publicado em português pela Vida Nova, e escrito durante o tempo em que viveu no Equador após a morte do marido. Seu programa de rádio diário para mulheres chamado “Gateway to Joy” foi transmitido por quase 13 anos nos EUA. Uma peça de teatro (“Bridge of Blood: Jim Elliot Takes Christ to the Aucas”), um musical (“Love Above All”), e um filme (disponível em português como “Terra Selvagem”) já foram produzidos sobre sua biografia.
Não é a toa que esses fatos servem de inspiração para o artigo inaugural do blog Benditas.
Elisabeth foi, sem dúvida, o que podemos chamar de uma “mulher bendita”. Mas por quê?

Nada a oferecer, a não ser Cristo

Apesar de seu “currículo” surpreendente, ela não possuía absolutamente nada de excepcional em si mesma, e, assim como nós, era uma pecadora em carência da misericórdia de Deus. Tinha necessidades, inseguranças, pecados, fracassos e dúvidas, como eu e você. Elisabeth não podia e nem pode nos oferecer nada. Ignorar esses fatos nos faz invejar a capacidade, intelecto e conquistas dessa irmã. Nos faz querer sermos igual a ela. Revela nossa idolatria. Nos leva para longe de Cristo, e para mais perto de Elisabeth e de nós mesmas.
E definitivamente não precisamos de mais de nós mesmas.
Entretanto, o motivo pelo qual olhamos para Elisabeth Elliot ainda hoje e nos maravilhamos com seu legado é por que, quando lemos suas histórias e nos deparamos com suas reflexões, não vemos a escritora e palestrante de prestígio, mas o Cristo. Contemplamos em sua vida o poder maravilhoso de Deus em transformar lágrimas de dor em cantos de alegria. Ela não poderia nos oferecer nada, mas seu Senhor e Salvador nos oferece muito por meio da obra que fez em sua vida.

Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito.
Romanos 8.28

Portanto, meus amados irmãos, mantenham-se firmes, e que nada os abale. Sejam sempre dedicados à obra do Senhor, pois vocês sabem que, no Senhor, o trabalho de vocês não será inútil.
1 Coríntios 15.58
Que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus.
2 Coríntios 1.4

O que é uma mulher bendita

Ser uma mulher bendita é confiar e depender da providência e soberania de Deus em todas as áreas de sua vida, quer você esteja em períodos de alegria ou de provação. É saber que você é bendita ou abençoada não por conta das circunstâncias da sua vida, mas pela esperança em Jesus Cristo de que tudo aqui é passageiro e não chega aos pés da Eternidade. É ter os olhos e a perspectiva do Céu.

Nossa bênção não vêm de outras pessoas, de nós mesmas, de nossas opiniões, decisões, nem mesmo de nossa teologia. Nossa bênção vem de Cristo, e é Cristo.
Somos benditas porque somos amadas. Incompreensivelmente, quando ainda estávamos mergulhadas em nossas vontades e pecados, inimigas de Deus em tudo, rebeldes e insolentes, revoltadas e amarguradas, o Senhor nos amou. Nada em nós poderia atraí-lo, mas por sua bondade e graça, ele decidiu nos amar e nos resgatar. E quão longe ele foi para isso.
Essa certeza nos faz andar em tamanha liberdade, que podemos dizer cheias de alegria e gratidão “somos benditas de Deus”.

Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Venham, benditos de meu Pai! Recebam como herança o Reino que lhes foi preparado desde a criação do mundo’.
Mateus 25:34

Nem tudo são flores

Você pode ter notado que um dos símbolos escolhidos para o blog são as suculentas. Essas plantinhas simpáticas são capazes de sobreviver em ecossistemas extremos, sem acesso à água, em temperaturas extenuantes, postas à prova diariamente no deserto. Mesmo assim, mantêm-se firmes em seu solo e produzem milhares de variedades, uma mais fascinante e exótica que a outra. Não é à toa que as suculentas são tão populares.
Em certo sentido, a caminhada cristã é assim. Vivemos em uma terra árida e extenuante, com desafios diários pela nossa sobrevivência. Todos os dias, sem cessar, lutamos contra nossa incredulidade, tentações, limitações e pressões mundanas. Sabemos que somos benditas e livres, mas não podemos escapar da realidade: ainda não estamos no Céu, ainda não temos nossa natureza totalmente regenerada. A vida de Elisabeth Elliot (e a sua) é prova disso. Quantas pessoas olhariam para as tristes circunstâncias, até mesmo derrotistas, que acabamos de ler e duvidariam da presença de Cristo em meio a tais tragédias? Quantas de nós, ao contemplar o deserto, não daríamos um veredito sobre sua esterilidade, sua incapacidade de abrigar plantas magníficas como as suculentas? Assim como o povo da Galácia teve dificuldades em crer na pregação de Paulo por conta de sua doença, muitas vezes temos mais fé em nossas expectativas do que Deus deveria fazer (ou ser) do que no que ele está realizando de fato, e perdemos a chance de sermos, como Elisabeth, instrumentos da graça, mais fortes quando estamos fracas, porque nesses momentos é que a glória de Deus é manifestada de maneira espantosa. Sem dúvidas, as circunstâncias áridas da suculenta são o trunfo da sua beleza e singularidade.

E disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo.
Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte.
2 Coríntios 12.9,10

Felizmente, a disposição do Senhor para conosco não depende de nós e podemos descansar em sua provisão diária de misericórdia.
Parte desse cuidado de Deus para nos preservar são os recursos que ele nos providencia. Sua palavra, a igreja local, amigas cristãs, um companheiro fiel são algumas das ferramentas usadas por Deus para edificar suas filhas de maneiras diferentes, em necessidades diferentes. Para a nossa época, parte dessa bênção está na internet. Podemos dizer que a internet é para nós hoje o que a criação da imprensa foi para a propagação da Reforma Protestante no século 16. Temos, na palma de nossas mãos, a possibilidade de ouvir, ler e assistir recursos preciosíssimos de cristãos fieis espalhados por todo mundo.
Em uma sociedade totalmente dominada pelo rebeldia contra Deus, nós resistimos.
Bombardeadas por falsas doutrinas e ideologias, nossos olhos não se afastam de Cristo, nossos lábios de sua palavra e nossos corações de suas promessas. Não há nada que o mundo nos oferece que supere essas maravilhas.
Juntas, como parte da igreja de Cristo espalhada por todos os cantos do mundo, temos o prazer de dizer, assim como Elisabeth “deixe-me ser uma mulher”, uma mulher bendita pela e para a glória de Deus.

Eu os tirei dos confins da terra, de seus recantos mais distantes eu os chamei. Eu disse: “Você é meu servo”; eu o escolhi e não o rejeitei.
Por isso não tema, pois estou com você; não tenha medo, pois sou o seu Deus. Eu o fortalecerei e o ajudarei; Eu o segurarei com a minha mão direita vitoriosa.
Isaías 41.9,10

Para isso é que o Benditas.blog foi criado. Para servir, ajudar, encorajar, inspirar e instruir mulheres na Palavra de Deus, de maneira que possam viver para sua glória em todas as áreas de sua vida.
Que pela graça de Deus essa plataforma possa abençoar sua vida e fazê-la amar e conhecer mais ao Deus trino.

Bem-vinda ao Benditas.blog!

 


  1. O termo “womanhood” traduzido aqui como “feminilidade” se refere à condição de ser mulher, ou o “ser mulher” em si, e não simplesmente a possíveis esteriótipos de aparência. 
Escrito por -

Cecilia tem 29 anos, é casada com o Guilherme há sete e mãe do Thomas e da Maria. É idealizadora do Benditas e tradutora. Membro da Igreja Batista Reformada de São Bernardo do Campo, Brasil.

2 Comentários

  • GISELE RODRIGUES

    Nossa!!! eu tenho aprendido a apreciar a Elizabeth Elliot.... Lindo texto!

  • Aline Rabelo

    Conheci esse blog por indicação de uma amiga...amei!! Que benção poder encontrar conteúdo bíblico de qualidade na internet. Deus continue abençoando esse ministério!

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