Jesus e a mulher de Samaria
*Por Célia Fidalgo
João 4:1-30 e 39-42
Um dos mais belos eventos contado pelo apóstolo João!
Jesus irá fazer uma revelação a uma mulher samaritana, e isto é, no mínimo estranho porque como o próprio texto nos informa “porque os judeus não se comunicam com os samaritanos”. (João. 4.9) Contextualizando resumidamente, quando o reino do norte – Israel – foi conquistado em 722 a.c. pelos Assírios houve mistura, através do casamento, entre os dois povos, judeus e assírios, originando assim o povo samaritano; estes últimos deixaram de ser considerados judeus pois não tinham preservado a pureza da linhagem de Israel.
Além disto, estava instalada uma corrente de pensamento agressiva para com as mulheres, eram ensinadas coisas como: “aquele que muito fala com uma mulher traz mal sobre si mesmo e negligencia o estudo da lei e por fim herdará o inferno”, “pior que ser uma mulher é ser uma mulher samaritana”, ” a saliva de uma mulher é impura”, “as mulheres são responsáveis pelo pecado ter entrado no mundo”, “não se pode acreditar no testemunho de uma mulher”. Estes são elementos importantes para entendermos a importância desta história.
Jesus viaja do sul, Judeia, para o norte, Galileia, e era-lhe necessário passar por Samaria, situada no centro. Ao meio dia, hora de maior calor, enquanto os discípulos de Jesus vão comprar comida, chega uma mulher samaritana sozinha para tirar água do poço onde Este estava a descansar. Para nós, no século XXI, pode não ser relevante, mas no primeiro século, numa comunidade de cultura comunal, tribo, família, em que, ir tirar água ao poço era uma actividade feita em grupo pelas mulheres de manhã ou ao final da tarde, quando estava mais fresco, isto é muito estranho.
Jesus pede água! Primeiro dirige a palavra a uma mulher samaritana, segundo, iria beber do mesmo recipiente que ela, mais ainda, engaja numa conversa que leva a uma exposição, de forma profética, do estado da mulher, tinha tido cinco maridos e agora vivia com um homem que não era seu marido. Quantas vezes rejeitada? Quantas vezes recebeu a carta de divórcio, talvez porque não era uma dona de casa exemplar, estava a envelhecer e foi trocada por alguém mais jovem, com as curvas no sitio e menos rugas no rosto, seria estéril? Possivelmente, não era amor mas uma necessidade de sobrevivência material e emocional que a tinha levado a mais um relacionamento. O texto não diz o motivo mas é claro que ela foge deste assunto e já que Jesus parecia saber tanta coisa sem ela lhe ter dito, faz perguntas teológicas, divergências sobre local de adoração a Deus entre os judeus e samaritanos, quem tinha razão? Ao que Jesus responde “Mulher, crê-me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai. Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.” João 4.21,23,24
Ela declara (sinto a sua resposta como um anseio constante do seu coração) “Eu sei que o Messias (que se chama o Cristo) vem; quando ele vier, nos anunciará tudo.”(João4.25) Acredito que Jesus viu isto também pela forma como lhe responde “Eu o sou, eu que falo contigo.” Pára tudo!!!!! Eu disse pára tudo!!!!!
Jesus revela pela primeira vez (e toda a gente sabe que só se pode fazer uma coisa pela primeira vez, uma vez) que Ele é o Messias, o Salvador esperado e o faz a uma mulher samaritana! Por fim, esta torna-se a primeira mulher missionária, testemunha na sua cidade, que crê e recebe Jesus e a sua palavra “E muitos dos samaritanos daquela cidade creram nele, pela palavra da mulher, que testificou: Disse-me tudo quanto tenho feito. Indo, pois, ter com ele os samaritanos, rogaram-lhe que ficasse com eles; e ficou ali dois dias. E muitos mais creram nele, por causa da sua palavra. E diziam à mulher: Já não é pelo teu dito que nós cremos; porque nós mesmos o temos ouvido, e sabemos que este é verdadeiramente o Cristo, o Salvador do mundo.” (João 4.39-42)
Esta mulher, anteriormente ostracizada na sua própria terra, agora, creio eu, tão querida pelos seus compatriotas por ter sido o veículo de tão excelente novidade, possivelmente ouvia frequentemente : ” se não fosses tu, àquela hora, naquele lugar, nunca teríamos conhecido o Salvador, obrigada por teres partilhado! “Acordou nessa manhã como mais um dia e deitou-se nessa noite como “o dia em que conheci o Salvador!”
Entendes que não há nada, nem género, idade, cor de pele, profissão, experiências, tabus, vergonha, pecado que escape ao olhar atento de Deus e o impeça de transformar uma vida para a Sua glória?
Vais ter a coragem da mulher samaritana? Queres mesmo conhecer o Salvador?