Sejamos alívio e não (mais) carga
*Por Suelen Dias
“Caso seja solteira e sem filhos, você se sente pressionada a casar-se e ter filhos?”, esta era uma das perguntas do nosso inquérito, à qual 37% das mulheres solteiras responderam que “sim” e 36% “às vezes”.
A pressão é imensa. Apenas 27% das inquiridas diz não se sentir pressionada para se casar e ter filhos. 27%!
Se por um lado a Igreja e, tantas vezes, a nossa família nos diz que temos de encontrar “a pessoa de Deus/a pessoa certa para nós”, por outro, a sociedade no seu geral quer-nos vender a ideia de que nos bastamos e que o importante é que encontremos a nossa felicidade, que experimentemos o que entendermos e que sigamos o nosso coração, afinal, ele nunca nos engana e os amores jurados eternos hoje não o serão necessariamente amanhã e não tem mal, mas se quisermos ficar sozinhas, não tem mal também. O mais importante é que não nos privemos de viver o que quisermos no momento em que o quisermos, não é mesmo? Não.
Sei que algumas das mulheres solteiras que me leem têm planos de se casar e ter filhos, outras, nem por isso. Hoje, escrevo especialmente a pensar em todas vocês que se encaixam neste grupo – o das solteiras.
No meio da tensão constante de uma sociedade que não valoriza o casamento e de um ambiente privado que nos quer impingir que a verdadeira realização só pode ser encontrada dentro de um relacionamento e de preferência com um (ou vários) filhos no colo, lidamos diariamente com a questão: como nos posicionarmos para não pecar contra Deus, nem nos sujeitarmos à infelicidade de vivermos vidas que outros projetaram para nós?
Bem, gostaria de começar por afirmar que há muitos motivos para se querer estar solteira ou não, mas há apenas um que glorifica a Deus: se for vontade dele que essa seja a sua condição para que o seu serviço à Sua igreja seja maior. Autossuficiência, culpa, medo, insegurança, falta de amor próprio não são motivos bons nem válidos e são algumas das principais razões que nos tiram o encanto de uma fase das nossas vidas que é tão boa e que deve ser vivida, como todas as outras, para a glória de Deus. Se for esse o seu caso, talvez por experiências passadas, peça ajuda. Encontre pessoas de confiança e fale abertamente sobre isso. Peça a Deus que a ajude a confiar que ele é maior que todas as suas incertezas e que sabe o que é melhor para si.
Não se desespere. Não aceite qualquer coisa e não seja uma qualquer para ser aceite. Não pense que alguma coisa está mal consigo. Não tenha medo de terminar uma relação tóxica, ou melhor, termine-a depressa. Aproveite este tempo para perceber o que gosta e o que não gosta, para definir quais são as coisas importantes e inegociáveis para si e o que não é tão importante assim. Aproveite para se dispor em serviço aos que a rodeiam. Guarde o seu coração. Esteja bem consigo mesma. Ore sobre esse assunto.
A nossa vida não começa com o casamento, na verdade estamos a vivê-la agora mesmo. Cabe a cada uma aproveitar da melhor forma que conseguir, sabendo que Deus não retarda as suas bênçãos de nós. Não devemos procurar uma metade que complete a nossa metade. Devemos procurar ser inteiras e fiéis a Deus, definindo quem somos à luz de sabermos quem ele é. Se algum dia nos unirmos a alguém, que nos unamos inteiras, se não, não desanimemos, Deus não nos deixa sozinhas e mesmo nos momentos de maior solidão (que existem) a nossa esperança é o Senhor.
Queridas irmãs com casamentos felizes, não tenham pena de nós, solteiras. Parem de olhar para nós como não realizadas. O casamento pode ser muito bom ou muito mau. Assim como a vida de solteira. Não forcem sentimentos onde não existem. Não nos ensinem que não é normal, só porque não foi a vossa experiência. Não nos digam que estamos a passar da idade de termos filhos. Não nos digam que estamos a desperdiçar a nossa juventude. Não há vidas iguais e cabe a cada um viver a sua. Você que é casada, seja um bom exemplo para as solteiras da sua comunidade. Não tenha vergonha em partilhar de que maneira Deus tem sido fiel no seu casamento. Não se exponha em demasia, mas não deixe de partilhar que mesmo não sendo tudo perfeito, há muitas coisas boas que acontecem no casamento. Invista parte do seu tempo com outras mulheres solteiras, peça a mulheres que não são mães, e até para as que não querem ser, que passem algum tempo consigo e com a sua família. No caso de ter filhos, deixe-as ajudar.
Mulheres casadas, divorciadas e viúvas, nós, as solteiras, precisamos de vocês. Precisamos que nos ajudem a estar mais preparadas quando, e se, o nosso momento de casar chegar e que parem de nos pressionar, por favor.
Queridas irmãs solteiras, não nos lamentemos em não ter vidas familiares como a dos outros à nossa volta. É bênção de Deus o tempo que temos para nos conhecermos melhor, para passear, para nos dedicarmos a coisas que gostamos, para estar com amigos, para nos dedicarmos ao serviço da igreja e da comunidade a que pertencemos. Mas também não digamos “desta água não beberei”, referindo-nos ao casamento. Sejamos cautelosas quanto às várias fontes que temos experimentado enquanto não nos decidimos ou encontramos aquela pessoa com quem queremos partilhar a nossa vida e intimidade. Sejamos sinceras connosco e peçamos ajuda a Deus e a outras irmãs que nos possam apoiar nas nossas incertezas.
Deus tem planos para nós. Ele sabe, nós não. Podemos orar pedindo-lhe direção quanto ao futuro, mas há coisas que ele nos chama para fazer hoje. Confiar-lhe alegremente a nossa solteirice é uma delas.
Se escolhermos esperar, esperemos com a diligência de quem sabe pelo que espera. E, minhas queridas irmãs, quer estejamos solteiras, quer estejamos casadas, mais do que todas as coisas, esperamos pelo dia em que estaremos com o nosso Deus face a face.
Para você que já passou da adolescência, terminou os estudos, já trabalha e, eventualmente, até já vive sozinha, tenha a idade que tiver, quero dizer-lhe que não há problema, Deus não se esqueceu de si e não há nada de errado consigo por permanecer solteira. Em fases diferentes, caminhamos este caminho juntas, louvando a Deus pelas bênçãos diárias, estar solteira inclusive.
Afinal, “Qual é o fim supremo e principal do homem?” O fim supremo e principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre. (Rm 11.36; 1Co 10.31; Sl 73.24-26; Jo 17.22-24.)” – Catecismo de Westminster, pergunta 1
Nas palavras de Paulo quando tratava do assunto do casamento “Isto que vos digo é uma concessão, mas não é uma ordem. O que eu queria era que todos fossem como eu. Mas cada um procede conforme os dons que Deus lhe concedeu, uns duma maneira, outros doutra.” – 1 Coríntios 7.6-7
Celibato não é um castigo divino. Celibato e casamento, ambos, dom de Deus, mas isso ficará para outras conversas.
Um abraço a todas.
Obs.: Texto escrito em português de Portugal. Esta plataforma não obedece ao Novo Acordo Ortográfico e respeitas as regionalidades da Língua Portuguesa de acordo com a origem de suas autoras.