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O maior inimigo da cobiça

Ultimamente, tenho refletido bastante sobre amar e sofrer e como as duas coisas não são desvinculadas. Em Cristo, cada vez mais percebo o amor consciente e disposto a sofrer, não só pela alegria futura que lhe fora proposta, mas para a glória da graça de Deus, segundo seu eterno propósito realizado em Cristo. Diante disso, a pergunta a se fazer é: tenho sido contente no sofrimento? E, se a resposta é não, o que isso tem a ver com a cobiça?

Amar é não cobiçar – Amor e contentamento no sofrimento

Quando Jesus responde ao fariseu que lhe tinha interrogado a respeito do maior mandamento da Lei, ele diz:

Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas. Mateus 22.37-40

Todo o conjunto da resposta de Jesus é importante para compreendermos como o amor é totalmente oposto à cobiça e como ele é central nas Escrituras, pois o próprio Jesus enfatiza como dele dependem a lei e os profetas.
Francis Schaeffer diz, em seu livro Verdadeira Espiritualidade, que amar é não cobiçar contra; é necessário amar a Deus para estar satisfeito e é preciso amar o próximo o suficiente para não cobiçar contra ele. Se deixarmos de amar o Senhor, logo nosso descontentamento aparecerá e cobiçaremos contra nosso próximo por estarmos insatisfeitos com nossa condição.
Como todo pecado, não amar o Senhor e não amar o próximo têm consequências, talvez nefastas, para nossa espiritualidade. Principalmente diante do sofrimento que nos alcança em nossa peregrinação, e que é parte do propósito de Deus para que Cristo seja formado em nós, pois ele mesmo sofreu, essas consequências se apresentam na forma de amargura e ingratidão.
A resposta de Cristo ao fariseu nos leva a repensar nossa atitude diante do sofrimento inevitável da vida, como o luto, tempos difíceis no casamento, fracassos em projetos considerados com expectativa, filhos que não se submetem nem aos pais nem ao Senhor, transtornos mentais inesperados e outros sofrimentos que não estão catalogados, mas doem no íntimo de nossas vidas. Qualquer uma dessas coisas pode nos acontecer sem que as esperemos, mas Deus as tinha em sua mente e sabe o que passamos.
Na nossa mais profunda dor, tendemos a nos afundar em amargura e ingratidão, e assim vamos dar de cara com o décimo mandamento:

Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo. Êxodo 20.17

Especialmente diante do sofrimento, nos encontramos no limite ao encarar esse mandamento, que, de certa forma, resume toda a lei, pois adulterar, furtar, mentir, desonrar são formas de cobiça contra o outro e, além disso, contra Deus.
Amar é abdicar até mesmo de nossos direitos em prol de outrem. Isso mesmo, de nossos direitos! Dito assim, de maneira direta, pode soar até escandaloso. Porém, nos demoremos nessa ideia mais um pouco. Jesus é o referencial pleno do que é amar a ponto de não cobiçar contra.

Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. Filipenses 2.5-7

Paulo traz essa linha de pensamento quando pede aos Filipenses que considerem uns aos outros com humildade e não por contenda ou vanglória. Se num contexto normal da vida podemos cobiçar contra o próximo, mostrando nossa insatisfação contra Deus, o que dizer do que podemos sentir em tempos de dificuldade? Temos o coração endurecido, e como bem disse Spurgeon, “Há pecado até em nossa santidade”. Não é fácil amar nosso Senhor nem o próximo quando este nos ofende e nos perguntamos se Deus não o vê; quando perdemos alguém que amamos e perguntamos por que Deus fez isso; quando enfrentamos noites escuras e questionamos pela luz de Deus.
Mesmo em tempos de dor, não deixamos de ser filhos de Deus e seu mandamento ainda está diante de nós. Quando pensamos nisso, principalmente em relacionamentos, constatamos que vivemos em um tempo de muitos direitos e poucos deveres, mas a Bíblia também nos alerta a agir como servos. Devemos lembrar que o serviço que agrada a Deus não é o mais extraordinário em seus métodos humanos, mas o que observa a vontade do Senhor completa em Cristo. Nosso coração só se dispõe a servir diante da revelação do sacrifício completo de Cristo e de nossa dependência total dele, pela fé, para a glória de Deus.
Tenhamos cuidado no nosso trato para com os que nos cercam e aprendamos a sofrer glorificando a Deus. Quando se lê um texto rápido de blog, tal entendimento parece simples e fácil, mas é doloroso, quando, na prática, temos de abdicar de levantar a voz para tudo que dizemos ser injusto contra nós. Compreendo como pessoa que há de fato muitos sofrimentos razoáveis de serem combatidos, mas não é contra estes que falo, e sim contra nosso ego que tenta fugir do sofrimento pois não sabemos dizer não a nós mesmas, sendo cobiçosas e insatisfeitas contra Deus. Nosso sofrimento não está oculto do Senhor e ele sabe o que está faz em nossa vida. Como diz Martha Peace, em sua palestra sobre a Esposa Excelente: “Se fôssemos mais contentes, agradeceríamos ao Senhor por nos estar provando em vez de nos amargurarmos.”
Que não nos esqueçamos: em tempos de dificuldade, Deus também está conosco e nós em Cristo.
Esse é o nosso consolo.
Amar exige tudo de nós.

Sobre a autora:
Ana Karoline de Mesquita tem 23 anos, é membro da Igreja Presbiteriana Redenção, em Brasília. Atualmente cursa Letras-Francês pela Universidade de Brasília e tem interesse em temas como literatura, hermenêutica, espiritualidade e vida cristã.

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Discípulas de Jesus de diferentes denominações da fé protestante com o propósito comum de viver para a glória de Deus.
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