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Maternidade aos pés da Cruz: seis dicas práticas

Recordo aqueles primeiras semanas de gravidez, por conta de alguns enjoos, mas sobretudo de muito sono. Ah, na primeira gravidez conseguia chegar em casa do trabalho, sentar-me no sofá e adormecer profundamente. Também recordo de a minha médica dizer que era normal, era uma forma maravilhosa que o organismo tinha de concentrar todas as suas energias na multiplicação de células e na feitura do meu bebê. Obrigava-me a descansar para internamente, trabalhar. E muito! Quem já viu a progressão de uma ecografia sabe o quanto o bebê cresce em poucas semanas. Com apenas seis, vemos uma luz a piscar, um coração a bater (que emoção). Com oito, vemos já uma cabeça e um corpo a ser formado. E com 10, 12 semanas a silhueta perfeita de um humano. Não há como duvidar que é uma pessoa que ali se desenvolve; é tão claro.
Nas gravidezes seguintes, tinha igualmente muito sono mas havia crianças para tratar. O sofá tinha de esperar por umas horas mais tarde, porém chegava o descanso. E como sentia que precisava dele! No final da gravidez, o cansaço retornava. Uma barriga enorme, pouca posição para dormir. Depois, nasce o bebê, já há posição para dormir mas há um pequeno ser para alimentar. São muitos meses de falta de descanso, é uma grande verdade.
É comum ouvirmos as mães de bebês pequeninos dizerem que conseguem fazer muito pouco estando com eles o tempo todo. Quando não precisam ser alimentados, precisam ser cuidados ou adormecidos. São muitas as horas com um bebê ao colo e com os braços ocupados. Pensava na frase que eu própria disse tantas vezes, e agora ouço de outras amigas: “Fico presa sem poder fazer mais nada!”
Mas, e se estar com um bebê nos braços é mesmo um plano intencional de Deus para nos obrigar a parar? E se essa é a única forma em que não temos alternativa senão sentar e pensar? Penso que estes tempos de ausência de descanso e sensação de fazer muito pouco e ter o trabalho a que nos propomos interrompido, só seriam possíveis com essa obrigatoriedade de parar.
Então, gostaria de partilhar algumas ideias sobre o que fazer com essa fase da vida, que vai passar, e que pode ser tão deliciosa quanto frustrante:

1. Escolha orar.

A primeira coisa a fazer quando sente a frustração de ter de parar: ore. Peça ajuda a Deus para encontrar a alegria necessária e o deslumbramento de parar e perceber o privilégio que é ter que adormecer um bebê, cuidar dele, ajudá-lo a crescer.

2. Escolha ler.

Sei que a tentação, em momentos de exaustão, é ligar a televisão ou consultar a internet no celular. É possível gastar muito tempo a consultar lixo, simplesmente porque é menos cansativo e não exige muito. Mas, na verdade, de pouco serve, senão tantas vezes para aumentar a sensação de inutilidade, quando se olha à volta e se vê uma casa por arrumar, um encontro adiado, uma vida a outro ritmo. Mesmo que uma mente cansada de noites mal dormidas tenha dificuldade em reter a leitura, vale a pena mesmo que demore mais tempo. Leia a Bíblia, leia livros que sejam intencionais para este momento da vida.

3. Escolha com quem falar.

Uma das coisas boas – mais igualmente más – destes tempos, é o acesso à informação. Para qualquer maleita ou doença há um fórum na internet, um artigo, uma resposta. Procure conselho com quem é uma referência, com quem ajuda a ver em perspectiva, com quem encoraja. A alegria é contagiosa, e com ela vem a renovação de forças.

4. Aceite ajuda quando for preciso

ou

arrisque quando não se sente capaz.

Estes dois conselhos parecem contraditórios, mas são para ser seguidos por pessoas diferentes. Se você é uma pessoa que tende à auto-suficiência (como eu), aceite ajuda mesmo quando acha que vai sobrecarregar ou não é assim tão necessário. Muitas vezes, não aceitamos ajuda por questões de orgulho, por receio de incomodar, por achar que estar a cuidar de filhos, não trabalhando fora, é estar de férias. É um erro. Se, por outro lado, é uma mãe que está sempre atrapalhada e a achar que não vai conseguir sobreviver sem comida feita, ajuda de avós e vive em pânico com a ideia de não conseguir gerir tudo, calma. Vai conseguir. Demora a encontrar um ritmo, demora a ter de aceitar que coisas terão de ficar para trás (a casa impecavelmente arrumada é uma delas, certamente) mas vai descobrir e vai encontrar uma nova forma de viver.

5. Escolha ficar calada quando acordar no meio da noite com o sono interrompido.

Costumo dizer que as maiores barbaridades que já disse na vida foram de madrugada, quando acordava constantemente e não dava para entender o que o bebê queria, e eu só desejava descansar e não via como. É fácil murmurar, azedar e discutir quando o descanso é cortado. Mais vale pensar duas vezes que a manhã vai chegar, o novo dia começar e o bebê irá sorrir como se não tivesse passado a noite a chorar e nós vamos ter o peso do que murmuramos há umas horas.

6. Tudo é passageiro.

Com quatro filhos, estive cerca de 10 anos num ciclo de pouco descanso. Nessa época, parecia que o tempo não iria passar, que iria ter sempre filhos a chegar à cama de madrugada, que nunca teria roupa sem nódoas ou sempre a sala cheia de brinquedos. Mas hoje isso já não é uma realidade na minha vida. O tempo passou e damos conosco a tentar perceber como o tempo, de fato, voou. Hoje sinto que aproveito melhor pequenos detalhes quando me relembro de como esta é uma realidade, e de como há sempre uma última vez para todas as coisas.
Não há nada tão transformador como a maternidade. É um estado de vida que nos transforma como mais nenhum outro. É difícil e maravilhoso. Desafiante e recompensador. Valem-nos as misericórdias do Senhor que se renovam a cada manhã. Abro a janela da cozinha todas as manhãs e penso: é mais um dia que tenho para viver. Como vou escolher fazê-lo? Tudo fica melhor depois de um café, no meu caso. E depois da leitura da Palavra. A graça do Senhor bastou ao apóstolo Paulo e bastará certamente para mim. Tenho de a receber com a noção do presente como sendo isso mesmo: um presente de Deus.

Escrito por -

Ana Rute é casada há 18 anos com o Tiago (pastor presidente da Igreja da Lapa, em Lisboa), mãe da Maria (16 anos), Marta (13 anos), Joaquim (12 anos) e do Caleb (10 anos). Tem 43 anos, nasceu e cresceu em Lisboa, Portugal. Mora nos arredores, em Oeiras, junto ao mar.

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